sexta-feira, março 29, 2024

Mudanças na estrutura sindical e observatório da paridade são as recomendações para a implementação real da paridade

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“Paridade é um tema que se reverte de importância a cada dia.” Foi nesta perspectiva que a ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, iniciou o debate de paridade na manhã de quarta-feira (26) na 3ª Plenária Nacional da Contracs/CUT.

A resistente, guerrilheira, presa política e torturada da ditadura de 1964 destacou a necessidade de transversalizar toda e qualquer análise de conjuntura sob o viés de classe, gênero e raça. “Então, se não pensar em classe, gênero e raça nós não vamos entender o porquê da importância da paridade. Se os senhores pensarem em entender a conjuntura apenas pelo viés de classe, nós também vamos ficar engatados e não sairemos do lugar porque no ano de 2017 e no século XXI o patriarcado tem uma outra característica: é masculino, heterossexual e branco e esquece que 52% da população são mulheres e deste 52%, 49% são mulheres negras. Como é que podemos não pensar em paridade?”

Eleonora reiterou que paridade é completamente diferente de cotas e explicou que “paridade é retirar as mulheres e a população negra da invisibilidade nos mundos do trabalho e colocá-las em lugar e admitir e aceitar que a luta das mulheres pela conquista de direitos é a conquista de espaços – não só espaço físico, mas espaço de voz e de direito de decisão e é isso que eu chamo de direito qualificado. Então nós não podemos ter um discurso para fora e para dentro fazer outra coisa.”

Neste sentido, a ex-ministra ressaltou que paridade é garantir direitos iguais com respeito às diferenças e, por isso, sugeriu mudanças na estrutura das entidades com alteração do horário das reuniões e de outras condições que impedem as mulheres de participar na prática do movimento sindical. Para Eleonora, as entidades precisam implementar a paridade de fato e as mulheres devem monitorar.

“É necessário que a gente implante e fortaleça a paridade. Paridade é direito e direito é a gestão do coletivo e da solidariedade, então nós precisamos ter essa solidariedade na gestão pública da luta e da democracia – com igualdade de gênero e raça. Eu acho importantíssimo que essa discussão seja feita e termino dizendo que cota é ação afirmativa que afirma negativamente a discriminação e a tornam visível para que ela não aconteça e a paridade é a equidade de direitos em um lugar de decisão. Nós não queremos deixar de ser invisível e nos tornar visível em um regime que nos oprime e onde a opressão de gênero ainda se mantém, então é fundamental discutir a paridade em todos os seus aspectos para que a gente entenda que o avanço é muito maior quando nível de equidade de direitos partir dos nossos locais de trabalho e de luta.” encerrou.

A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) destacou que as mulheres são as maiores vítimas da crise. “A única política pública que reconhece a desigualdade no mundo do trabalho e que busca superá-la que é a diferença do tempo de contribuição e de serviço na previdência está com ameaça de rompimento. A única política pública que reconhece a desigualdade no mundo do trabalho e que busca superá-la ao reconhecer que nós, mulheres, trabalhamos mais que os homens e trabalhamos com parte de nosso trabalho não remunerado – é a dupla e a tripla jornada. É como se a sociedade dissesse: ‘vai, ocupa o teu lugar no mundo do trabalho, mas espaço doméstico ainda te pertence majoritariamente. Vai, ocupa o teu espaço público, mas o cuidado com meninos e meninas ainda é sua responsabilidade’.”

A deputada falou ainda como os homens culpam as mulheres por não terem espaço e questionou como podemos ter uma Câmara Federal com menos de 10% de representatividade feminina se as mulheres somam mais de 50% da sociedade? “Não me venham dizer que nós não temos burcas invisíveis ou mordaças invisíveis e paredes e tetos de vidro porque quando nós entramos no mercado de trabalho existem as paredes de vidros e nós não conseguimos superá-las porque elas estão inviabilizadas e isso significa duas coisas: você não combate o que não vê. E o segundo aspecto é que culpam as mulheres que não chegam onde podem chegar porque não têm capacidade ou não querem chegar.”

Por isso, Érika Kokay reforçou que a luta das mulheres não é cereja de bolo nem chantilly de café e sim algo estruturante para que mais de 50% da humanidade não seja simbolicamente desumanizada. “E nós, que queremos a paridade como forma de rompimento, não podemos aceitar a burla da paridade. Nós queremos um observatório da paridade para que ela não se transforme em algo formal destituído do seu conteúdo, que é assegurar uma sociedade com igualdade de direito e rompermos a desumanização simbólica porque nós mulheres queremos estar em todos os lugares que nós quisermos estar. Em todos os lugares que o ser humano pode estar.”

A deputada federal Érika Kokay ressaltou que é necessário garantir a paridade que assegure igualdade de direitos e lembrou que o movimento sindical introduziu o direito das mulheres nos acordos coletivos a partir do direito à maternidade, mas que é necessário avançar especialmente após aprovação da reforma trabalhista que permite mulheres lactantes e grávidas trabalharem em locais insalubres. Segundo ela, tal medida exige uma reação do conjunto das mulheres deste país assim como fizeram as senadoras ao ocupar a mesa do Senado na tentativa de impedir tamanho retrocesso. “E nós estamos aqui para dizer: Cuidado moço, porque nós somos mulheres e temos um pacto com a transformação, com a verdade e temos um pacto com a coragem.” Finalizou.

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