terça-feira, março 19, 2024

Carrefour precisa ser criminalizado por casos de racismo, diz secretária da CUT

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Um casal negro foi espancado por seguranças dentro de uma unidade do Carrefour em Salvador, na Bahia, na sexta-feira (5). A sessão de tortura e xingamentos foi filmada e viralizou nas redes sociais neste fim de semana. A Polícia Civil vai abrir inquérito para apurar o caso e a suspeita é de que os próprios agressores tenham publicado o vídeo.

No Carrefour, as imagens mostram o casal rendido e tomando tapas na cara. Os agressores acusam ambos de furto de leite em pó. Sob intensa coação, a mulher afirma se chamar Jamile e justifica o suposto furto porque precisava levar leite para a filha. O espancador também diz: “Tá ligado que aqui tem polícia, né?”. O homem agredido identificou-se como Jeremias, é forçado a falar o nome da mãe e também apanha no rosto.

Este caso de violência e racismo se soma a outros dentro das lojas do Carrefour (veja abaixo), e se a empresa não for responsabilizada criminalmente, se não for para o banco dos réus, nada vai mudar porque vai continuar a responsabilizar terceiros pelos crimes, entende a secretária de Combate ao Racismo da CUT Nacional, Anatalina Lourenço.

“O Carrefour não aprendeu nada com as denúncias. Fez uma ação pontual, sem mudar a sua estrutura e a formação de seus prestadores de serviços porque há uma conivência de sua direção, portanto, ela é coautora dessas ações”, diz Anatalina.

A dirigente acredita que a violência contra o casal pobre e negro será logo esquecida pela opinião pública. Segundo ela, a punição no Brasil funciona a partir da tonalidade da pele.

“O racismo é fenótipo no Brasil. Quanto mais escuro o tom da pele mais discriminada será a pessoa”, afirma.

Anatalina compara o caso desse casal que roubou um leite que custa algo em torno de R$ 10,00 com o da estudante de medicina que desviou R$ 1 milhão da festa de formatura de seus colegas da universidade e responde em liberdade, e o dos brancos ricos e acionistas das lojas Americanas que provocaram um rombo de bilhões. Nem a estudante, nem esses empresários estão presos.

“São situações diferentes, mas o princípio é o mesmo, é um crime. No entanto, quem pagou com punição física foi um casal de negros. O que une os três casos é o ato do cometimento do crime, só que numa sociedade extremamente racista não se deixa passar impunemente um pequeno furto, mas de deixa passar bilhões de desvios do dito colarinho branco”, pontua.

O racismo é extremamente perverso e ele orienta a conduta social, dos agentes de segurança, do judiciário e das autoridades do Estado que normalizam a brutalidade cometida contra um grupo majoritário [pobre e negros] , mas que do ponto de vista político não é majoritário. Enquanto a sociedade continuar sendo seletiva isso vai se perpetuar

– Anatalina Lourenço

O Carrefour emitiu nota lamentando o ocorrido, informando ter demitido os seguranças, cobrando apuração e afirmando que dará suporte para as vítimas.

Casos recorrentes de racismo no Carrefour

Não é a primeira vez em que seguranças da rede de supermercados são flagrados em casos de violência contra negros. Em 2009,, funcionários de uma unidade em Osasco espancaram um homem negro, Januário Alves de Santana. A alegação do Carrefour foi de que Januário estava tentando roubar um carro. Detalhe: o carro era do próprio Januário.

Em 2018, Luís Carlos Gomes, homem negro, deficiente físico, foi espancado no banheiro do Carrefour em São Bernardo do Campo. Acusação: abrir uma lata de cerveja dentro da unidade.

Em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por dois seguranças de uma loja na zona norte de Porto Alegre (RS).

Após a repercussão do assassinato de João Alberto, a juíza Cristina Cordeiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), resolveu tornar público outro episódio envolvendo a rede francesa, que teria ocorrido entre 2017 e 2018. Uma mulher negra, lésbica, pobre e dependente química, presa por suspostamente furtar alimentos em uma filial do Carrefour no Rio de Janeiro, foi espancada e estuprada por funcionários do supermercado.

Em março de 2023, Vinícius de Paula, marido da jogadora da seleção brasileira de vôlei Fabiana Claudino, denunciou racismo da loja de Alphaville, em São Paulo. Dias depois, a professora Isabel Oliveira ficou apenas com roupas íntimas em uma unidade de Curitiba do mercado Atacadão, empresa do grupo Carrefour, para denunciar racismo cometido por segurança.

O Grupo Carrefour é formado pelas marcas: Carrefour Hiper, Carrefour Bairro, Carrefour Market, Carrefour Express, Carrefour Drogaria, Carrefour Posto, Atacadão e Supeco.

O levantamento é do “Opinião Preta”, em seu Instagram

Da Redação da CUT Com informações da RBA

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