Em encontro do Macrossetor Comércio, Serviços e Logística, dirigentes destacam desafio de unir classe trabalhadora para garantir condições decentes de trabalho diante das novas formas de produção
O segundo dia do Encontro do Macrossetor Comércio, Serviços e Logística da CUT reuniu nesta sexta-feira (4) lideranças sindicais para discutir a organização da classe trabalhadora diante dos impactos que as novas tecnologias trazem ao mundo do trabalho.
Antes do início das mesas, o evento recebeu a visita do Superintendente Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros, que destacou a necessidade de o movimento sindical repensar a forma de atuação, a começar pelo fim do imposto sindical, conforme defende a CUT, sem acordo com as demais centrais.
“A banda boa (do sindicalismo) fica calada e vai levando a banda podre nas costas. Essas coisas não podem ficar desse jeito”, apontou.
Regulamentação – Para a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Junéia Batista, garantir condições decentes de trabalho passa a ser prioridade da classe trabalhadora diante dos modelos de organização que resultam das novas tecnologias. Transformações que muitas vezes passam despercebidas no cotidiano, alertou, como chamar o táxi pelo celular ou o check-in eletrônico nos aeroportos, que diminuem a necessidade de atendentes.
“O desafio do movimento sindical perante os novos modelos de gestão é pensar uma nova forma de organização capaz de manter as conquistas sociais para quem já está no Mercado e direitos para quem entra. Estamos em um período de pleno emprego, mas com alto índice de rotatividade e assédio moral, especialmente para os setores de comércio, serviços e bancos. E nesse processo, temos de descobrir como atrair os jovens para o nosso lado”, avaliou.
Também sobre a saúde do trabalhador, Junéia afirma que o debate a respeito do tema é uma disputa ideológica entre capital e trabalho, entre quem coloca o lucro à frente e quem luta por condições dignas, e que apenas pode ser travada em pé de igualdade se os trabalhadores estiverem unidos. ”A primeira esperança são ações como esses encontros dos macrossetores, que permitem entender o que nos afeta como um todo e discutir como superar os desafios. Precisamos nos reaproximar das bases para que saibam que estamos discutindo essas questões e para saber o que pensam. E além disso, precisamos participar de espaços institucionais onde estão os patrões e podemos discutir essas questões”, defendeu.
Terceirização eletrônica – Economista do Dieese, Vivian Machado falou sobre o que chama de cenário de ampliação da terceirização e destacou a Lei 12.865/2013, que regulamenta os meios de pagamento eletrônico e permite transações através de celulares sem a necessidade de uma conta bancária.
Para ela, com o argumento de ampliar o acesso das pessoas ao sistema financeiro, os bancos têm a anuência do Banco Central para buscar medidas que reduzem os custos com a emissão de moeda, mas também eliminam postos de trabalho e, consequentemente, aumentam o lucro.
Segundo Vivian, a lei traz ainda lacunas como incertezas sobre quem responderá por problemas que surgirem com o sistema eletrônico e quem representará os trabalhadores das novas instituições de pagamentos, já que não se sabe a qual categoria pertencem.
“A justifica do acesso a todos é a mesma que utilizaram para transformar lotéricas e lojas varejistas em correspondentes bancários. Só que esses correspondentes estão mais presentes na região Sudeste, onde há mais agências, e pouco no Norte e Centro-Oeste, onde há maior carência de serviços bancários. As novas tecnologias diminuem cada vez mais a necessidade de trabalhadores bancários, enquanto o comerciário é cobrado para fazer o serviço financeiro, mas não conta com a mesma estrutura de segurança que o bancário. É uma realidade que afeta todas as categorias e, se não nos unirmos, vamos perder todos”, avalia.
Sentimento de classe – Secretário de Saúde da Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), Domingos Mota, que ressaltou a necessidade de cobrar do Ministério de Saúde ações para fortalecer a discussão nos locais de trabalho, foi mais um dirigente a ressaltar a importância da unificação das categorias cutistas em macrossetores para gerar solidariedade e pautas comuns de luta.
“No ramo financeiro, o sistema capitalista dificulta o acesso por meio humano para levar o cliente às novas tecnologias, em que o próprio cliente faz o atendimento. Essa é uma realidade que precisaremos enfrentar e o sentimento de classe, principal mérito do macrossetor, vai nos levar a debates menos corporativistas e mais com o sentimento de que somos todos a classe trabalhadora”, definiu.
Já o diretor do Sindicato dos Vigilantes da Bahia, Vladimir Cardoso defendeu a necessidade de cobrar do governo o compromisso assumido com os trabalhadores, quando eleito. “Para avançar em nossa luta precisamos também pautar o governo que elegemos e cobrar ações para a agenda da classe trabalhadora. Temos que estar nas ruas no próximo dia 9 para que não só os empresários sejam ouvidos”, disse.
Direito do consumidor – Professor especialista em direito do consumidor, Georgios Alexandridis defendeu que a atuação do movimento sindical esteja associada aos interesses de quem consome os serviços para que seja respaldada pela sociedade.
“Quando o movimento sindical faz greve de ônibus ou metrô é o consumidor quem mais sente o prejuízo, enquanto a liberação de catracas traria maiores problemas ao empresário”, exemplificou.
Para Alexandridis, a luta dos sindicatos na defesa dos consumidores deveria ser mais ampla. Primeiro, porque beneficiaria diretamente os trabalhadores, já que um serviço de qualidade passa pela melhoria de condição no local de trabalho. Segundo, porque em muitas situações, o trabalhador atua como representante do empresário no estabelecimento e acaba induzido ao erro por desconhecer a legislação ou por não saber que pode recusar adotar uma postura nociva ao consumidor.
Macrossetor nos estados – Apesar da amplitude de categorias que compõem o macrossetor, o secretário-adjunto de Formação da CUT, Admirson Ferro Júnior, o Greg, avalia que o encontro foi capaz de traçar um panorama de desafios e obstáculos comuns.
“Esse seminário abre uma perspectiva de luta mais organizada em cima de bandeiras como o combate à terceirização, a defesa da redução jornada de trabalho e da saúde de trabalhor, que tem o assédio moral comum a todas as categorias.”
O próximo passo, afirma o dirigente, é organizar as federações e os sindicatos cutistas para fazer um enfrentamento mais coeso nos estados.
“Os encontros nacionais continuarão acontecendo, mas precisamos descer para regiões com o objetivo de fazer com que nossas entidades incorporem-se a essas batalhas.”