Conjuntura internacional e atuação em rede foram destaque no debate.
Nesta terça-feira (18), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs/CUT) reúne as sete redes de trabalhadores que organiza para debater sobre a conjuntura internacional e avaliar a atuação de cada rede juntamente à garantia de direito aos trabalhadores que representam.
O presidente da Contracs, Alci Matos Araujo, e a secretária de relações internacionais, Lucilene Bisnfeld, participaram da mesa de abertura. O evento também contou com a participação do secretário-geral Djalma da Silva Sutero; do secretário de políticas sociais José Vanilson Cordeiro; da coordenadora da região Centro-Oeste Zenilda Leonardo da Silva e dos diretores Salvador Vicente, Rogério Braz e Antonio Carlos da Silva Filho.
Cerca de 40 pessoas participam do evento, que iniciou com um debate sobre a conjuntura internacional com Terra Budini, especialista em relações internacionais, integrante do Grupo de Reflexões em Relações Internacionais (GR-RI) e assessora do PT, que tratou não só da conjuntura da política externa brasileira como abordou a importância da organização dos trabalhadores diante deste cenário.
Conjuntura
Terra iniciou relatando sobre o panorama global, que se dá em torno de modelos econômicos divergentes. Segundo ela, em 1990 houve uma grande onda neoliberal no Brasil, que passou a ser modificada em 2003 quando o presidente Lula foi eleito. Apesar disso, a especialista ressaltou que no mundo estas políticas continuam vigentes e com força, principalmente no período de crise internacional, que se instalou desde 2008. A forma como diversos países adotaram determinadas medidas para conter a crise mostra isto claramente. “Na Europa, os principais instrumentos de combate à crise são medidas de austeridade com o aumento dos juros, elevação das taxas de desemprego, acesso a novos mercados com mais desigualdade e precarização das relações do trabalho como tem acontecido nos Estados Unidos em que o os empregos aumentaram, mas estão mais precários.” destacou.
No cenário de crise internacional, o Brasil se tornou modelo e referência com políticas de valorização da renda e emprego, que estabeleceram um novo modelo de desenvolvimento. Em relação à política externa adotada pelos governos do PT, Terra afirmou que ela está calcada em outras bases. “A política externa brasileira não está mais sustentada na redução de direitos e, sim, na inclusão social, seguindo em uma direção oposta a dos países desenvolvidos.”
Já os outros países possuem uma agenda de liberalização maior com flexibilização de direitos. Entre as medidas adotadas por estes países, a assessora do PT destacou a adoção de medidas que criam “margens” maiores de proteção às multinacionais e diminuem a “margem” de proteção social dos cidadãos e dos trabalhadores.
A política externa no Governo do PT
Sobre a política externa adotada pelo governo do PT, Terra Budini destacou que mudou muito. Segundo ela, o Brasil sempre adotou uma política externa de subordinação aos Estados Unidos e à Europa, mas que vêm mudando isso ao longo dos últimos 12 anos.
“Nos últimos 12 anos, buscou-se uma inserção autônoma com a busca de novos parceiros regionais e outros países estratégicos como a China, a Índia, a Rússia e a África do Sul. Esta foi uma virada importante para que o Brasil se colocasse de outra maneira internacionalmente.” declarou.
Embora a crise internacional provocasse um cenário mais difícil, a especialista em relações internacionais informou que há continuidade no processo de independência na atuação do Brasil.
Terra afirmou que em 2003 já havia o Mercosul, no entanto lembrou que em sua criação o bloco econômico havia sido criado apenas baseado no comércio e na integração. “Com o governo do Lula, houve a preocupação em expandir e diversificar a integração. Mas não podia ter uma agenda baseada no comércio sem o bem-estar de seus povos. Com isso, a política internacional brasileira passou a ter novas dimensões com um plano estratégico de forma conjunta para garantir espaços de desenvolvimento social em todos os países integrantes do bloco econômico.”
Ação dos trabalhadores em rede
Como alternativa às medidas precárias das empresas, Terra Budini ressalta que o Estado não é o único instrumento da relação. “O papel dos trabalhadores é fundamental em uma organização forte e em escala transnacional.” Neste sentido, ela destacou que as redes sindicais são elementos decisivos para o embate com as multinacionais e suas políticas precarizantes. “O ativismo e a militância de outros trabalhadores podem contribuir com as lutas em outros locais assim como atos solidários aqui podem ajudar outros trabalhadores internacionalmente.”
As pautas dos trabalhadores
Os principais instrumentos de articulação e desenvolvimento internacional atualmente são a UNASUL e os BRICS. Segundo Terra, a UNASUL foi criada em 2008 e é um fórum da América do Sul de articulação independente. O UNASUL é considerado um elemento central que tenta articular a região sul-americana de forma autônoma e independente promovendo o desenvolvimento conjunto de todos os países. Já em relação aos BRICS, Terra afirmou que o grupo faz frente à liderança internacional dos Estados Unidos e no qual o Brasil tem um papel de destaque. “O Brasil é o único país que tem democracia e liberdade com participação e inclusão social com potencial e agenda de ampliação da democracia e da inclusão social. Isto traz um poder simbólico para o Brasil no cenário internacional e serve de modelo aos outros países.” afirmou.
Para a assessora do PT, a política externa não pode ficar além de outras questões que são importantes no País e deve auxiliar como uma política pública no auxílio da inclusão social.
Em relação à participação da pauta dos trabalhadores tanto na UNASUL quanto nos BRICS, Terra destacou que ainda é pequena e lembrou que nos anos de 1990, durante o neoliberalismo, os trabalhadores norteavam mais os papeis destes instrumentos de articulação internacional tais como o Mercosul e até mesmo a Alca, que deixou de existir em grande parte pela pressão dos trabalhadores. “Nos governos do PT, há uma grande redução na participação dos trabalhadores neste sentido porque o governo já passa a adotar pautas e posturas em defesa dos trabalhadores. Para que a pauta dos trabalhadores esteja mais presente é preciso de mais articulação e pressão das entidades e trabalhadores.”
Terra finalizou afirmando que as diferenças entre os países integrantes dos BRICS podem dificultar um pouco mais a inserção de pautas a favor dos trabalhadores, mas sugeriu que a existência de diferenças tão grandes talvez fosse o ponto central para que houvesse pressão e surgisse, então, uma colaboração a favor dos trabalhadores de outros países.
Ação Global
Atuando em colaboração e a favor de trabalhadores de todo mundo, a UNI promove juntamente com suas entidades parceiras e filiadas um dia de ação global em prol dos direitos dos trabalhadores do Walmart em todo o mundo.
A Contracs participará do ato que acontecerá em frente a loja de Osasco, na Vila Yara, a partir das 8h e exigirá que o Walmart cumpra todas as leis trabalhistas e melhore os salários e as condições de trabalho no Brasil e no mundo.
Na Índia, os manifestantes se reunirão fora da sede para exigir que a multinacional respeite os direitos dos vendedores de rua em toda o país, garantindo uma concorrência leal.
Nos Estados Unidos, os trabalhadores/as se mobilizarão em frente à sede latino-americana em Miami pedindo que seus proprietários ofereçam trabalho em tempo integral e com horas consistentes.
Na Cidade do México as pessoas irão protestar na sede do Walmart para denunciar a manipulação da empresa diante das acusações de corrupção e de maltrato aos trabalhadores.