Conjuntura política também desfavorece momento atual
Durante a reunião da direção nacional da Contracs na manhã desta terça-feira (14), o economista Airton dos Santos destacou que o Brasil vive um momento delicado em termos econômicos para o trabalhador. Segundo ele, a alta da inflação é o principal motivo, pois o trabalhador perde seu poder aquisitivo conforme os preços aumentam.
Já o segundo motivo destacado pelo coordenador de atendimento técnico sindical do Dieese é o baixo crescimento econômico do Brasil. Do ponto de vista do trabalhador, Airton exemplificou que o não crescimento econômico quer dizer redução de emprego e de salário. “Como os salários-nominais não podem ser reduzidos, então o que as empresas fazem é demitir quem ganha mais e contratar outros por um salário bem menor e tem uma perda salarial nominal.” O exemplo de Airton ilustra a popular e temível rotatividade, que atinge especialmente o setor do comércio e seus trabalhadores/as.
Entre os fatores que contribuíram com este cenário está a queda da indústria brasileira, que passa por um momento sério de perda do tamanho e da importância da produção de riqueza no Brasil. Airton afirmou que desde 2002 os produtos primários exportados pelo País tiveram aumento de preços internacionais aumentando a receita brasileira. Para ele, o Brasil soube aproveitar este momento para melhorar o padrão de vida dos menos favorecidos e aquecendo a economia.
No entanto, o técnico do Dieese afirmou que a valorização do Real ante as moedas internacionais somado ao aumento do poder de compra da população fez com que o consumo de produtos internacionais crescesse, enfraquecendo a indústria nacional e refletindo em outros setores da economia. “Não há nenhum país no mundo que seja desenvolvido e tenha uma indústria fraca e é isso que caracteriza sua potência: uma indústria forte. A moeda nacional ficou valorizada demais neste período, mas não corresponde a uma indústria forte.” reiterou.
Com a crise internacional, no entanto, o preço dos produtos exportados pelo Brasil caiu quase pela metade gerando queda no preço das mercadorias e na competitividade da indústria brasileira no cenário internacional e nacional.
Airton pontuou que possivelmente o Governo Brasileiro se equivocou por não ver que o preço das matérias-primas em alta não duraria para sempre. “A economia capitalista não cresce indefinidamente e tem ciclos de crescimento – conforme conta a história do capitalismo que há crises e momentos que a economia cresce e depois vem uma descida e tanto.” Para ele, o Brasil não devia ter deixado o Real se valorizar tanto. O economista alerta que este foi um erro estratégico e que o importante era ter protegido a indústria para torná-la forte.
Entre outras críticas à política econômica “pré-crise”, o técnico do Dieese elencou a retenção dos preços das tarifas como energia e gasolina e a contenção do câmbio para controlar a inflação. “Embora o consumidor possa deixar de comprar produtos importados [devido à alta dos preços], a indústria depende de materiais importados e não consegue segurar, por isso, repassa o valor para os produtos nacionais que usam produtos importados.”
Segundo Airton, para conter a inflação o governo aumentou a taxa de juros favorecendo os ricos e o setor rentista e, consequentemente, diminuindo o setor produtivo, os empregos e a produção de riqueza. Para ele, o aumento dos juros deve ser feito no momento em que a economia está aquecida para reequilibrá-la. “Ao aumentar taxa de juros, o governo dá um recado para a comunidade econômica internacional e nacional de que o País está empenhado em conter o desequilíbrio econômico que estamos passando.”
Airton pontuou que os custos sociais para voltar a crescer estão sendo grandes e, talvez, possam se aprofundar caso a política do salário mínimo e os programas sociais sejam questionados. “Nós temos as nossas fragilidades econômicas que podem ser consertadas, mas os meios de comunicação e a oposição estão decretando que o País está acabado. Como consertar a economia se do ponto de vista politico estamos vivendo este caos?”
Para ajudar o trabalhador, Airton destaca o movimento sindical como uma alternativa à crise embora ressalte sua desunião. “Nós não temos esperança de que o Congresso Nacional possa mudar este cenário. Tem que ir para a rua e discordar da política econômica do governo, mas sustentar o governo e a presidenta porque a saída eventual de queda para impeachment vai jogar o País em uma situação muito pior. Precisamos reagir enquanto movimento organizado e ir para a rua toda hora dizer não à política econômica e dizer sim aos projetos sociais de inclusão e a quem foi eleito democraticamente para ser presidente da república.”
Na quarta-feira (15), a direção da Contracs receberá o jurista e docente em direito Jorge Luiz Souto Maior e o advogado de entidades sindicais Maximiliano Garcez para tratar do PLC 030 – da terceirização e encontrar possíveis caminhos para atuar no combate à precarização dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.