sexta-feira, novembro 22, 2024

Jovens negros ainda enfrentam dificuldades para entrar no mercado de trabalho

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O privilégio racial da sociedade brasileira dificulta o ingresso desses jovens no mercado e os condicionam as profissões com menores salários e oportunidades

O trabalho é o que proporciona a maioria da população o acesso à renda. O mercado de trabalho também influencia na inserção das pessoas nos meios sociais. É o emprego e a atividade exercida que definem quem tem prestígio e a qual grupo ou classe social a pessoa pertence. Por essas razões, o primeiro emprego é motivo de preocupação para os jovens. Principalmente em uma realidade onde nem todos têm as mesmas oportunidades e por vezes nem a chance de escolha.

Os negros são maioria entre a população de nosso país. Eles representam 50,7% dos brasileiros, segundo dados do Censo Demográfico de 2010, e ainda hoje são discriminados na sociedade e principalmente no mercado de trabalho. A grande taxa de desemprego, a diferença salarial, a baixa escolaridade e alta rotatividade em algumas categorias fazem parte das dificuldades encontradas pelos jovens negros ao procurarem o primeiro emprego.

A taxa de desemprego dos negros são sempre maiores do que a dos não negros. Essa é uma realidade enfrentada tanto pelas mulheres quanto pelos homens. O crescimento econômico ocorrida na última década, embora tenha reduzido as diferenças tanto de sexo quanto por raça e cor, não foi suficiente para acabar com as desigualdades históricas de nosso país. A expansão contribuiu com a diminuição das taxas de desemprego, porém entre a população negra, a desigualdade social fez com que houvesse um aumento dessa taxa que passou de 2,4 para 2,6 pontos percentuais de desemprego no período.

A diferença salarial é outro ponto estarrecedor. Em 2013, o rendimento médio dos trabalhadores e trabalhadoras negras era de R$ 7,98 por hora, enquanto os não negros recebiam R$ 12,22. A desigualdade salarial é de 65,3% e embora esse número venha reduzindo ao longo dos anos, ainda falta muito para que haja igualdade salarial.

Um estudo realizado pelo Dieese em 2013 sobre os negros no mercado de trabalho demostrou que a desigualdade de oportunidades e a desvalorização do trabalho da população negra ocorre com a argumentação de que a defasagem escolar e a desqualificação desses trabalhadores são as grandes responsáveis.

“É no mercado de trabalho que os negros e negras percebem o preconceito racial. São salários menores, cargos mais simples e poucas oportunidades. Nós como sindicalistas temos obrigação de combater o racismo e defender a igualdade de direitos. A solução está na educação, então temos que garantir que os jovens negros tenham a mesma oportunidade de estudar para concorrerem as mesmas vagas de todos os outros. Temos que quebrar os argumentos”, enfatiza a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia.

Os setores de serviços, indústria e comércio são a porta de entrada para os jovens trabalhadores. Por serem setores em que não há necessidade de experiência e a exigência de qualificação profissional é mais baixa, muitos jovens veem nessas áreas a chance do primeiro emprego e enfrentam remunerações mais baixas, relações de trabalhado mais precárias e são consequentemente menos valorizados socialmente.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese constatou que entre as jovens negras, o emprego doméstico tem sido ao longo dos anos, a porta de entrada para o mercado de trabalho. Por exigir baixo nível de escolaridade, as mulheres negras ingressam nessa profissão desde muito jovens e devido à falta de oportunidades, nela permanecem até estarem mais velhas.

No mercado de trabalho metropolitano, o estudo aponta que grande parte dos trabalhadores negros encontram-se em ocupações denominadas de segunda ordem que é caso de alfaiates, calceiros, camiseiros e costureiros, no ramo da indústria; de pedreiros, serventes e pintores, na construção; vendedores, frentistas e repositores de mercadorias, no comércio e por faxineiros, lixeiros, garis, serventes, camareiros e empregados domésticos no setor de serviços. Eles ingressam nesses cargos e dificilmente tem a chance de crescer e chegar a chefia, gerência ou coordenação.

No estudo sobre a situação dos negros no mercado de trabalho, a socióloga Gisele Pinto defende que o ingresso prematuro dos jovens negros no mercado demostra as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Pois, mesmo com mais oportunidades de estudo básico fornecido a todos por meio das escolas públicas e das chances de cursar o ensino superior, por meio de cotas e bolsas, os jovens negros se veem obrigados a abandonar os estudos desde muito novos para trabalhar e suprir as necessidades de casa.

“Mais do que bolsas, precisamos de justiça social, de igualdade de oportunidades e de uma cidadania plena. São necessárias condições que ofereçam a todos uma igual distribuição das possibilidades de obter o seu sustento e a plena realização de suas capacidades. Se fizermos isso conseguiremos finalmente construir a igualdade racial no Brasil”, conclui Gisele ao defender que essa seria a grande alternativa para que os jovens negros tenham as mesmas oportunidades e principalmente a chance de escolher a profissão na qual quer ingressar ou seguir ao longo de sua carreira.

 

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