Evento já esteve em diversos estados brasileiros conhecendo a realidade da categoria
Um público composto por mais de 60 trabalhadores/as em hotelaria, majoritariamente composto por mulheres camareiras, participaram do primeiro dia da Oficina Nacional Temática do setor Hoteleiro, ao longo dessa quarta-feira (2), em Brasília.
Com o tema “Condições de Trabalho das Camareiras”, o evento promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs/CUT) tem o objetivo de realizar o diagnóstico das oficinas regionais e discutir um plano de ação que garanta condições dignas de saúde e segurança para a categoria, rumo à construção de uma norma regulamentadora.
“Esse é um momento para refletirmos sobre as condições de trabalho das camareiras, o assédio sexual e moral ao qual são expostas, jornada dupla e tripla, entre outras questões. Nossa disposição é extrair encaminhamentos e garantir condições dignas de trabalho, melhorias no salário e nas condições de trabalho e vida”, afirmou o presidente da Contracs/CUT, Alci Matos.
Os debates tiveram início com o tema: “O setor hoteleiro na perspectiva internacional”, que contou com a exposição de dois convidados que militam no movimento sindical pelo mundo e conhecem a situação dos hoteleiros em diversos países.
“O resultado das pesquisas que as camareiras fizeram foi que 77% das trabalhadoras tinham dores que interferiam no trabalho; duas em cada três trabalhadoras foram ao médico e tiveram que tomar medicamento diário para poder continuar trabalhando. Isso significa que existe algo muito errado nas condições de trabalho da categoria. Nos Estados Unidos, existe uma meta de número de quartos que precisam ser limpos. Conseguimos reduzir a meta. Para que vocês tenham uma ideia, nos hotéis sindicalizados, a meta é de 12, 13 quartos e nos não sindicalizados, aumenta para 25, 30, no mesmo período de horas”, explica a dirigente da Unit Here – Internacional Union, Pâmela Vossenas, que também apresentou diversos dados e estudos sobre a situação das camareiras nos Estados Unidos.
Emílio Ferrero, da Uita Mundial, ressalta que não há trabalho justo e adequado para as camareiras. Segundo ele, a única maneira de lutar por melhorias e direitos é através da organização e dos sindicatos. “Em todo mundo é exatamente igual, onde as camareiras estão organizadas por sindicatos, conseguimos reduzir números de quartos, pausas de trabalhos. 25 a 30 quartos a mais. Nos países turísticos, patrões pressionam camareiras continuar fazendo 30 quartos em 6 horas”
Durante a parte da tarde, a Oficina abordou as condições de trabalho na categoria das camareiras com Gerardo Iglesias, da UITA; Ruy Carlos Freitas, assessor da Contracs; Helane Carvalho do Sechosc-DF e Gilmar Moreira de Oliveira, do Sindhoteleiros de Mossoró.
Gerado Iglesias, da UITA, apontou que o trabalho de limpeza dos hotéis é um gueto feminino de trabalho. Segundo ele, 60% a 70% do setor hoteleiro é composto pela força de trabalho feminina, mas os salários ainda são 25% mais baixo do que dos homens. “É necessário construir uma Norma Regulamentadora das condições de trabalho das camareiras para deixar claro qual o trabalho da categoria e como deve ser executado.”
O assessor da Contracs, Ruy Freitas lembrou que as trabalhadoras querem ter condições de chegar em casa para cuidar dos filhos e estar com a família, mas que as jornadas intensas não dão estas condições. Segundo ele, o ultraliberalismo da nossa sociedade ultrapassa os limites da dignidade humana.
Para tratar de propostas e análises para a categoria das camareiras, o consultor jurídico da Contracs, Maximiliano Garcez, reiterou a necessidade de se entrar com ações judiciais contra as empresas que praticarem inconstitucionalidades. Neste sentido, ele atacou a reforma trabalhista. “Não podemos dar a entrada do vigor da lei como fato consumado porque a lei é inconstitucional. Qualquer lei só pode ser aplicada se não violar a Constituição Federal e a Organização Internacional do Trabalho. Qualquer coisa que façamos, tem que ter isso em mente. A gente defende o fortalecimento da convenção coletiva, sem introjetar essa reforma como fato consumado.”