Durante encontro do Macrossetor de Serviços da CUT, lideranças apontam necessidade de ousadia para pensar ações conjuntas contra problemas comuns.
No primeiro dos dois dias do Seminário do Macrossetor Serviços da CUT, que acontece terça (3) e quarta-feira (4) na sede do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em São Paulo, a Contracs (Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços), apontou a necessidade de as organizações sindicais irem para além do discurso conjunto.
Durante o encontro, o presidente Alci Matos ressaltou que o momento exige utilizar experiências vitoriosas, como a campanha salarial unificada dos trabalhadores bancários, para aplicar em experiências de negociação intercategorias.
“Nossa grande pauta no debate do macrossetor é buscar unidade de categorias para ter maior capacidade de organização interna e coletiva. Produzimos estratégia entre os setores para reduzirmos o trabalho precário que atinge todas as categorias. No comércio e serviço é onde está a maior rotatividade, os mais baixos salários e a terceirização precária, mas, mesmo que em menor proporção, isso também se repete em outros segmentos”, apontou.
Na avaliação do secretário-geral da Contracs, Antônio Almeida, a solidariedade torna-se obrigatória neste momento para a sobrevivência do movimento sindical.
“Temos de convergir não só no tom do discurso, mas também nas pautas das campanhas salariais e na divisão da estrutura. Precisamos mudar a forma de pensar as organizações sindicais e a Contracs, como um mini macrossetor, pode dividir essa experiência”, avaliou.
Visão de pais
Além de questões relacionadas à campanha salarial em tempos de crise e ao roubo de direitos, a primeira edição do encontro que reúne entidades dos setores financeiro, da educação, transporte, segurança, comunicação comércio e serviços apontou a necessidade de defender a democracia com a garantia de eleições e a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para as categorias, somente com a revogação das medidas adotadas pelo golpista Michel Temer (PMDB), como a PEC dos gastos públicos, a terceirização sem limites, as privatizações e a própria Reforma Trabalhista será possível reestabelecer um ambiente de desenvolvimento com distribuição de renda.
Em meio ao crescimento das mídias sociais e de novas formas de organização da classe trabalhadora, que teve como um dos principais expoentes a recente greve de caminhoneiros organizada em grupos de troca de mensagens, a unidade dos setores se torna questão inadiável.
Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp Ludmila Abílio indicou como um dos fantasmas a ser observado pelos movimentos sindical a tendência de ‘uberização’ do trabalho, uma forma de precarizar, dividir e desproteger os trabalhadores sob o argumento de diminuir custos sociais e gerar mais emprego.
“Vemos o crescimento do trabalho por aplicativo em que se joga o trabalhador para gerenciar o seu trabalho e criar alta rotatividade dentro da classe. Com isso, você afeta o discurso de atuação conjunta por meio da ideia de competitividade e essa é a essência da reforma trabalhista. Uma medida que reduz o trabalhador a um ponto de produção, disponível conforme a necessidade”, definiu.
Outro ponto em debate foi a forma como a precazição tem sido visto vendida por alguns setores da economia como a única saída para a crise e, em especial no comércio e serviços o grande desafio é a manutenção da carteira de trabalho em oposição a propostas de trabalho intermitente.
“Nossa esperança deve ser depositada na organização e na retomada da ideia de classe trabalhadora, de atuação conjunta”, afirmou o diretor da Fundação Perseu Abramo Artur Henrique.