Estatal chegou a movimentar 13% do PIB, mas caiu para 4%. No setor de energia, atual governo deixou uma conta de R$ 500 bilhões
A Petrobras precisa “maximizar” sua capacidade instalada para diminuir a dependência de importações de derivados, mas a empresa perdeu peso econômico nos últimos anos. Essas são algumas das conclusões do grupo de trabalho (GT) sobre minas e energia da equipe de transição, que deu entrevista coletiva no início da tarde desta quinta-feira (8). “A empresa diminuiu de tamanho em relação ao efeito multiplicador que ela tem na economia brasileira. Chegou a movimentar 13% do PIB em 2014, caiu para menos de 4% essa movimentação”, afirmou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), coordenador do subgrupo Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, especulado para a presidência da estatal. Ele afirmou que, hoje, o futuro da empresa é “nebuloso”.
Segundo vários participantes da entrevista, a Petrobras tem que rever a direção tomada nos últimos anos e não se concentrar apenas na exploração. Prates e outros afirmaram que as petroleiras de todo o mundo caminham para se tornar empresas de energia, o que precisa acontecer também no Brasil. Para Magda Chambriard, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras abriu mão da vanguarda, caminhou no sentido contrário ao das grandes petroleiras e deu passos atrás. Já o professor Mauricio Tolmasquim, coordenador do grupo técnico de Minas e Energia, afirmou que a Petrobras precisa chegar ao século 21, adaptando seu processo produtivo.
Vulnerável a choques externos
O Brasil exporta petróleo bruto, mas é dependente da importação de derivados. Isso torna o país vulnerável a “choques” de preços internacionais. Aumentar a capacidade reduziria essa vulnerabilidade. A busca da energia limpa é uma diretriz clara, disse o coordenador dos grupos de transição, Aloizio Mercadante. “A Petrobras não pode olhar só exploração”, afirmou. É preciso buscar “a maximização da capacidade instalada, no sentido, como diria o presidente Lula, de abrasileirar o preço do combustíveis ao longo do período”. Isso para deixar de depender do câmbio e do combustível importado. “O país está num colapso fiscal, Bolsonaro quebrou o Estado brasileiro, nós precisamos agora ter uma política racional e usar as vantagens que nós temos.”
Tolmasquim afirmou ainda que o atual governo deixou uma conta de aproximadamente R$ 500 bilhões para ser paga pelo consumidor de energia nos próximos anos. Isso inclui, segundo ele, uma “conta covid”, de empréstimo feito durante a pandemia, outra “conta escassez hídrica” e contratação emergencial de usinas termelétricas, entre outros fatores. As termelétricas representam a maior parte da conta.
Irracionalidade energética
Ele criticou (“Irracionalidade energética”) a obrigação de contratar termelétricas onde não há escoamento de gás natural. Foi uma das contrapartidas do Congresso para aprovar o projeto de privatização da Eletrobras. Outra foi a contratação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) por meio de reserva de mercado nos leilões de energia.
“Hoje, o custo da geração da energia elétrica é muito barato, porque as nossas fontes são baratas, temos bons recursos naturais. Agora, a tarifa que o consumidor paga é exorbitante, uma das mais cara do mundo”, comentou Tolmasquim.
Durante a coletiva, os representantes da transição apontaram situação de “penúria” das agências do setor, como a própria ANP e a Associação Nacional de Mineração (ANM). E também criticaram decretos e portarias que, segundo eles, abriram caminho para a mineração ilícita.
“Houve deliberadamente, oficialmente, estímulo ao garimpo ilegal. Isso não é bom para a Amazônia, para o Brasil e para a mineração”, afirmou o coordenador do subgrupo de Mineração, Giles Azevedo. “Essa instabilidade compromete o investimento das empresas”, acrescentou, lembrando que algumas normas serão revisadas.