Ataques ao SUS, à ciência e desinformação colocaram o país em posição de alerta para a volta de doenças já erradicadas no país, como poliomielite, rubéola e coqueluche e o sarampo
Após um longo período de descaso com a saúde pública e ataques ao Sistema Único de Saúde (SUS), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou que dará prioridade à vacinação. O objetivo é impedir a disseminação de doenças que já haviam sido erradicadas no país, como sarampo e poliomielite, rubéola e coqueluche, que estão voltando a ser diagnosticadas em centenas de crianças.
Uma das primeiras medidas anunciadas é uma campanha de vacinação infantil que terá início já em fevereiro e incluirá postos de vacinação nas escolas.
“Nós temos a tarefa de recuperar a alta cobertura de vacinação no país”, disse a ministra da Saúde Nísia Trindade, no dia 10, em Brasília. Para isso, “além da vacina tem de ter toda a estratégia para a vacinação”, complementou a ministra.
O que a ministra não disse, mas ficou subentendido, é que a má gestão da saúde nos governos do ilegítimo Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL), levaram o país a uma situação de alerta em relação à volta de doenças já haviam sido erradicadas, entre outras coisas, por causa das baixas taxas de vacinação.
No início do ano, a ministra da Saúde havia afirmado que o governo Lula fará um esforço nacional pela vacinação e anunciou a criação do Departamento Nacional de Imunizações.
“Nossa meta será um esforço nacional pela vacinação, assim como teremos esforço nacional pelo combate à fome (…) será um esforço de todos os ministérios. Não será uma pauta só do Ministério da Saúde”, disse a ministra.
Risco de retorno de doenças
A erradicação de doenças como poliomielite, rubéola, coqueluche, entre outras, resultado da eficiência de programas de vacinação colocados em prática durante os governos de Lula e Dilma também podem voltar por causa da taxa insuficiente de imunização, em especial em crianças e adolescentes, alertam especialistas.
Marcas da gestão de Bolsonaro, a negação à ciência e a disseminação de desinformação, além do desmonte do Programa Nacional de Imunização (PNI), aprofundaram o risco, afirma a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva.
Trajetória de descaso
A dirigente, que também integra o Conselho Nacional de Saúde (CNS), explica que, entre as origens do problema, estão o congelamento de recursos públicos por 20 anos, a partir da promulgação da Emenda Constitucional (EC) nº 95, que estabeleceu um teto para gastos públicos, inclusive em áreas essenciais, e o desmonte do SUS, após o golpe de 2016 contra a então presidenta Dilma Rousseff (PT).
Madalena Silva aponta ainda a campanha ideológica de Bolsonaro contra a vacinação, vista principalmente durante a pandemia da Covid-19, que teve efeito também na percepção da população em relação a vacinas para prevenir outras doenças infecciosas.
“Sabe-se que as vacinas que fazem parte do PNI são eficazes e seguras, mas a imunização foi atacada fortemente por uma campanha intencional de Bolsonaro para desmentir a ciência e plantar dúvidas nas pessoas”, diz Madalena Margarida Silva.
Segundo ela, o governo sequer respeitou leis, como a que prevê a obrigatoriedade de vacinação nos primeiros anos de vida que conta no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Esse desestímulo promovido por Bolsonaro, afirma Madalena, “levou o índice de imunização a uma regressão na cobertura vacinal que, segundo especialistas, nos coloca hoje no mesmo patamar da década de 1980”.
Cobertura vacinal incipiente
Em 2016, graças ao PNI, programa que foi considerado referência mundial em vacinação, o Brasil havia recebido uma certificação de erradicação do sarampo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, o vírus voltou a circular no país em 2018 e a cobertura vacinação ainda é insuficiente.
Dados do Ministério da Saúde comprovam a baixa cobertura vacinal e, mais do que isso, apontam quedas ao longo dos anos. Veja alguns números:
- Sarampo, caxumba e rubeóla: cobertura vacinal caiu de 93% em 2019 para de cerca de 71% em 2021;
- Hepatite B, tétano, difteria e coqueluche: cobertura foi de apenas de 60% em 2021;
- Tuberculose e paralisia infantil: índice foi de cerca de 70%, em 2021;
- Poliomielite: apenas 70% do público-alvo acima de quatro anos foi vacinado.
A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas. O mínimo recomendável pela OMS é de 95%.
Outros motivos:
Além do congelamento de recursos e dos ataques ao SUS, há ainda a percepção por parte da população de que uma vez erradicadas as doenças, não há risco de contraí-las e, portanto, não é necessária vacinação.
Essa situação, explica a secretaria de Saúde da CUT, foi alimentada pelo sistema de fake news e desinformação colocado em prática durante o governo de Bolsonaro. Entre as várias mentiras ditas pelo ex-presidente, está a de que os ‘totalmente vacinados contra a Covid-19’ estariam ‘desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida [AIDS] muito mais rápido que o previsto’. Bolsonaro afirmou ainda que a vacina contra a Covid tornava as pessoas suscetíveis a contraírem o HIV.
Bolsonaro também atacou a vacinação contra a Covid para crianças no início do ano passado, indo contra a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) à época. Em entrevista à TV Nova Nordeste, de Pernambuco, ele disse que não ia vacinar a filha de 11 anos e acusou os técnicos da Anvisa de “terem algum interesse na liberação da vacina”.
“Toda a desinformação disseminada por Bolsonaro foi e ainda é a principal causa desse desestímulo da população de vacinar seus filhos. Os ataques foram tão grandes que as pessoas, de forma geral, além de profissionais de saúde, ficaram sem conhecer o calendário de vacinação do PNI, que era referência em imunização”, afirma Madalena
“Essa falsa percepção de que não há perigo, aliada à desconfiança geradas pelas mentiras, tem levado a população a acreditar que vacinas não são seguras’, acrescenta a dirigente.
O que fazer
Em consonância com o que diz a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o desafio, segundo a secretária da CUT, é estruturar e fortalecer o SUS, o PNI e reestabelecer a confiança da população na vacinação, conscientizando os pais e familiares sobre a importância de imunizar crianças e adolescentes.
Além disso, ela diz, é preciso “reestabelecer a confiança nos gestores em saúde e nos profissionais, como os agentes de saúde que foram fundamentais nos últimos tempos na busca de pessoas a serem vacinadas”.
Ela afirma ainda que é necessária uma grande campanha de combate as fake news disseminadas pelos “fascistas antivacinas”, direcionada a toda sociedade e promovida em parceria entre governo federal, estados e municípios.
Fonte: CUT Brasil