Condenado por racismo e homofobia, o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet entrou para o noticiário da crise política com a revelação de que guardou objetos de grande valor dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro durante o exercício do seu mandato.
A combinação desses fatores pode levar a Câmara Legislativa a retirar o nome do tricampeão mundial da principal competição de automobilismo do mundo do Autódromo Internacional de Brasília. Criado com esse nome em 1974, o autódromo leva o nome de Nelson Piquet desde 1996, quando o ex-piloto se tornou arrendatário do local.
O autor do projeto para a retirada do nome é o deputado distrital Fábio Félix (Psol-DF). O texto foi apresentado no ano passado após a divulgação da entrevista em que Piquet chama o piloto inglês Lewis Hamilton de “neguinho” e usa termos homofóbicos. Piquet foi condenado na semana passada pela 20ª Vara Cível de Brasília a pagar uma indenização de R$ 5 milhões, que será destinada a fundos de promoção da igualdade racial e contra a discriminação da comunidade LGBTQIA+.
“A condenação e a informação de que ele guardava presentes caros do ex-presidente reforçam a necessidade de aprovar esse projeto. Tudo isso implica mais ele. Brasília não merece qualquer logradouro público homenageando alguém com essa conduta”, disse Félix ao Congresso em Foco. O deputado pediu o desarquivamento da proposta (PL 2.912/2022), que agora poderá tramitar na Casa, passando por comissões e audiências públicas.
Piquet foi condenado em primeira instância, na semana passada, a pagar uma indenização de R$ 5 milhões por racismo e homofobia. A ação foi impetrada pelas entidades Aliança Nacional LGBTI, Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de SP e Francisco de Assis: Educação, cidadania e direitos humanos. As entidades alegaram que o ex-piloto utilizou um termo racista para se referir ao piloto britânico Lewis Hamilton ao comentar sobre o acidente com o holandês Max Verstappen na competição de 2021. Piquet culpa Hamilton pelo acidente e compara com um episódio envolvendo Ayrton Senna em 1990, afirmando que o brasileiro fez diferente na disputa que envolveu os dois brasileiros na ocasião.
O comentário de Piquet se deu em uma entrevista para o Canal Erneto, que publicou no Youtube o trecho em que o piloto se refere a Hamilton como “neguinho”. “O neguinho meteu o carro e não deixou [desviar]. O Senna não fez isso. O Senna saiu reto. O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro [Verstappen] se fudeu. Fez uma puta sacanagem”, disse o ex-competidor, que é sogro de Max Verstappen.
Carioca de nascimento, Piquet tem uma vida fortemente ligada a Brasília, onde mantém negócios. Apesar da sua opção pelo bolsonarismo e pela direita, o pai de Piquet, Estácio Gonçalves Souto Maior, foi ministro da Saúde no governo João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964, fonte de inspiração política de Bolsonaro. Uma empresa do ex-piloto faturou mais de R$ 6 milhões em um contrato assinado, sem licitação, em 2019, com o Instituto Nacional de Meteorologia, órgão ligado ao Ministério da Agricultura. O ex-piloto doou mais de R$ 500 mil à campanha eleitoral de Bolsonaro. Ele também dirigiu o Rolls-Royce presidencial durante o desfile de 7 de setembro de 2021.
O circuito do autódromo de Brasília tem o traçado misto e sentido horário. São seis curvas para a esquerda e seis para a direita. A extensão é de 5.475,58 metros e a maior reta tem 750 metros. Ao ser inaugurado, recebeu uma corrida extracampeonato de Fórmula 1, na única vez em que a categoria esteve na cidade.
da redação da CUT