Por Julimar Roberto*
Não importa se as mulheres são maioria, desde sempre nossa sociedade vem sendo dominada pelos homens. Ninguém sabe quando isso começou e há registros de sociedades remotas onde as mulheres prevaleciam, mas tratamos de não deixar essas “ideias” tomarem forma. De onde vem esse medo da paridade? Me parece que ele é tão antigo quanto a própria humanidade.
No Brasil, segundo o IBGE, o número de mulheres superou em 4,8 milhões o de homens. Em 2021, a nossa população era de 212,7 milhões de pessoas, das quais 108,7 milhões (51,1%) são mulheres e 103,9 milhões (48,9), homens. Uma equivalência de 95,6 homens para cada 100 mulheres.
Se os números não mentem, por que esta desigualdade? Mesmo em meio a avanços, os homens ainda ocupam a maioria absoluta dos cargos de poder, tomam as principais decisões que impactam na vida de toda sociedade, dão ordem, criam leis, proíbem, permitem. Ainda nutrimos a chamada sociedade patriarcal.
Convivemos diariamente em um mundo em que os homens se acham superiores e se julgam donos das mulheres, decidem sobre os seus corpos e as tratam como objetos. Prova disso é o elevado número de casos de feminicídio no Brasil, decorrente da percepção errada de poder que muitos ainda nutrem. E os números assustam cada vez mais.
Em 2022, segundo o Monitor da Violência, o Brasil atingiu o triste saldo de 3,9 mil homicídios dolosos de mulheres, quando se tem a intenção de matar, dos quais 1,4 mil foram feminicídios. Esse índice representou um aumento de 2,6% em relação ao ano anterior, o maior número já registrado desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, em 2015.
Outro dado alarmante se refere ao assédio sexual presente na vida da maior parte das mulheres. O estudo “Violência Contra as Mulheres em Dados” alerta que 97% das brasileiras já sofreu assédio sexual, seja no ambiente de trabalho, em espaços públicos ou, até mesmo, em meios de transporte.
E a lista não tem fim. Mulheres são as que mais sofrem com a pobreza e a insegurança alimentar, ocupam os postos de trabalho mais precarizados e são sempre as responsáveis pelo cuidado com os outros. E os índices se intensificam quando se trata de mulheres negras.
Mas essa triste perspectiva não esmorece a maioria que, por outro lado, insiste em teimar e lutar contra todas as probabilidades. Sem querer romantizar a dor delas, precisamos – sim – evidenciar essa força e perseverança que as impulsiona a fazer história. Mesmo sendo silenciadas, elas são essenciais e todos os grandes embates trabalhistas e sociais têm a participação feminina massiva.
Então, para findarmos o “mês da mulher”, vale muito a pena chamarmos, mais uma vez, à reflexão. É tempo de darmos passos largos rumo a uma sociedade em que homens e mulheres tenham – verdadeiramente – direitos iguais e ocupem os mesmos espaços de poder.
Para que o machismo não tenha mais lugar, lutemos!