As trabalhadoras foram fundamentais na formação da CUT e trouxeram para o debate a ideia de que nenhuma central sindical será efetivamente representativa se não levar em conta uma base formada por diversos gêneros e necessidades.
Mas, da mesma forma que os direitos são resultado de luta, também os avanços implmentados pela maior central do país como a paridade de gênero em instâncias de direção nacional e das estaduais foram frutos de muito mobilização, trabalho e articulação política.
Todos esses aspectos foram discutidos no quarto encontro do ciclo de debates que a CUT promove para celebrar os 40 anos de luta. A atividade teve como tema “O papel das mulheres na construção do sindicalismo CUTista” e aconteceu nessa quarta-feira (28).
Uma das convivdadas, a consultora sobre sindicalismo e primeira coordenadora da Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Didice Godinho, afirmou que a paridade é importante, mas, sozinha, não estabelece um ambiente de igualdade.
“Temos de continuar discutindo relações de poder, esse debate não está terminado com as cotas. Sabemos que as condições de participação das mulheres ainda são muito desiguais. Outro desafio é mudar a conceção de trabalho, a CUT ainda tem um olhar muito restrito ao trabalho assalariado e precisa entender isso de maneira mais ampla, considerar o trabalho de cuidado, reprodução social executado majoritarimente pelas mulheres”, apontou.
Para Didice, a luta pela igualdade deve ser de todos porque o machismo é uma das formas de opressão à classe trabalhadora. “A luta contra a discriminação sobre as mulheres precisa ser interseccionalizada, é parte do processo de exploração de classe. A agenda das mulheres precisa ser assumida pela CUT como um todo”, definiu.
Resgate histórico
Secretária da Mulher Trabalhadora da Central, Juneia Batista, ressaltou que os avanços não são individuais, mas resultado da luta coletiva e que somente a partir de uma articulação ampla é possível mudar o ambiente ainda majoritariamente masculino do movimento sindical.
“Precisamos pensar em nossa unidade, os companheiros são muito organizados, se fecham, montam bloco e não queremos mulheres tuteladas que vão pela cabeça de homens ou que se empoderam individualmente, mas não empoderam as outras companheiras”, definiu.
Uma análise que é resultado da construção do movimento iniciado desde a fundação da CUT, em 27 de agosto de 1983, em São Bernardo do Campo.
Após 38 anos do 1º Encontro de Mulheres da Central, em 1985, ano que a primeira trabalhadora também assumiu a presidência de uma estadual, na Paraíba, a luta agora é para que a paridade, aprovada no Congresso Nacional da CUT (CONCUT) de 2012 e que passou a ser implementada a partir de 2015, leve em conta também a distribuição por gênero em cargos de decisão.
Didice ressaltou que o nascimento do novo sindicalismo, que se opôs a uma organização sindical pelega, associou-se ao movimento feminista que nascia no Brasil e discutia temas como sexualidade, violência e trabalho doméstico.
A gradativa ocupação de espaços por meio de iniciativas locais e estaduais culminou no 1º Encontro de Mulheres da CUT, em 1985, e na criação da Comissão Nacional da Questão da Mulher Trabalhadora, em 1986, durante o 2º CONCUT. Na ocasião, a principal bandeira de luta era o direito à creche.
Em 1988, o 1º Encontro Nacional da Questão da Mulher Trabalhadora debateu temas fundamentais para as mulheres e reuniu forças e mobilização para que em 1993, 10 anos após a fundação, a CUT aprovasse a cota de 30% para as trabalhadoras na direção.
Duas décadas depois, em 2023, a criação da Secretaria da Mulher Trabalhadora iguala o debate sobre gênero às demais pautas da Central.
Com o pioneirismo na América Latina e Caribe na implementação de cotas, a Central inspirou outras organizações trabalhistas a avançarem e trouxe para dentro do sindicalismo temas como violência por gênero e aborto, questão levada ao 4º CONCUT em 1991, quando foi a aprovado o apoio à descriminalização da interrupção da gravidez.
Impacto sobre os ramos
Secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e vice-presidenta da Internacional da Educação da América Latina (IEAL), Fátima Silva, destacou como as decisões da CUT influenciam todo movimento sindical. Uma vez aprovada pela Central, a paridade fez com que os ramos e sindicatos também discutissem e tivessem que implementá-la.
A luta das trabalhadoras, avalia Fátima, fez com que a existência de mesas de negociação para discussão de acordos e convenções coletivas sem mulheres se tornasse exceção e não regra. Fator fundamental para a implementação de políticas que combatam temas na origem da organização das trabalhadoras da Central, como a desigualdade e a violência.
“A violência de gênero ainda faz a mulher faltar em 18 dias do trabalhar por ano, um impacto de R$ 1 bilhão para a economia do país. Esse é um desafio para nós, da CUT e para o mundo do trabalho enquanto mercado”, falou.
Redação da CUT