Na segunda-feira, 1° de abril, enquanto o Golpe militar de 1964 completou seus 60 anos, Juiz de Fora, em um movimento simbólico inverso, testemunhou a “Marcha da Democracia”. O evento, organizado por diversas entidades e movimentos sociais, reuniu manifestantes de várias partes do país em um ato de resgate histórico e compromisso com a justiça social.
A diretora da Contracs e secretária-geral da CUT-RJ, Jane Sant’Ana, esteve presente na atividade e relatou que a marcha teve um significado profundo ao reverter o caminho do general Olympio Mourão Filho há seis décadas, quando marchou de Juiz de Fora até o Rio de Janeiro para destituir o então presidente João Goulart.
“Não podemos reescrever a história, mas podemos conta-la e reconta-la para que as futuras gerações entendam a gravidade dos acontecimentos e suas consequências e, assim, impeçam que ela se repita”, disse a dirigente.
Sant’Ana ressaltou que a marcha trouxe uma mensagem de resistência democrática e honra à memória daqueles que lutaram contra a ditadura militar no Brasil.
Além dos ativistas, o evento, também conhecido como “marcha reversa”, contou com a presença de familiares do ex-presidente João Goulart e de outras vítimas do regime militar, assim como daqueles que resistiram bravamente à opressão, adicionando um tom de homenagem e memória à marcha.
Entre os momentos simbólicos da jornada – que do Rio de Janeiro totalizava 180 quilômetros -, destacam-se duas paradas significativas: uma em Petrópolis, onde foram entregues 100 quilos de leite em pó para auxiliar os afetados pelas chuvas, e outra na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, com um ato simbólico na ponte do Rio Paraibuna.
Ao chegar em Juiz de Fora, a marcha alcançou seu ápice. A prefeita Margarida Salomão anunciou a entrega do título de doutor honoris causa ao presidente João Goulart pela Universidade Federal de Juiz de Fora, reafirmando o compromisso da cidade com os valores democráticos e a memória daqueles que lutaram pela liberdade.
O filho do ex-presidente Jango, João Vicente Goulart, emocionou os presentes ao recordar os 21 anos de tristeza sob a ditadura militar e reafirmar a determinação em não mais tolerar a tutela militar. Em suas palavras, ele denunciou também a ameaça do sistema rentista, defendendo um Brasil de desenvolvimento justo e igualitário.
“Esta pátria tem dono. É o povo brasileiro, que precisa reconquistar seus direitos. Como dizia Jango, a praça pública é do povo e só ao povo pertence”, reforçou.
E como se atendendo ao clamor de Jango, o povo tomou a praça para reforçar a mensagem da marcha: a democracia é um valor inegociável, e a luta por justiça social e direitos humanos resiste e persiste incansavelmente.
“A Marcha da Democracia em Juiz de Fora ressoou como um lembrete poderoso da importância de preservar e fortalecer as instituições democráticas e da necessidade de manter viva a memória das lutas passadas em prol de um futuro mais justo e livre para todos os brasileiros e brasileiras”, concluiu Jane Sant’Ana.