segunda-feira, maio 20, 2024

Greve na Argentina: trabalhadores paralisam o país em rechaço à recessão causada por Milei

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Com apoio das principais agremiações sindicais do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) realiza uma greve geral na Argentina nesta quinta-feira (9). A paralisação de 24 horas tem adesão dos serviços de transporte terrestre, marítimo e aéreo. Assim como de instituições educacionais, financeiras e empresas de todo o país. Trabalhadores do Estado, da saúde, turismo também se somam ao ato contra a “motosserra” do governo de Javier Milei.

Essa será a segunda greve geral dos trabalhadores argentinos em apenas quatro meses. Em 24 de janeiro, uma multidão tomou as ruas do país contra as políticas de ajuste fiscal do presidente. Desde sua posse, em dezembro, Milei vem realizando uma série de medidas de desregulamentação. Os cortes sociais e de gastos públicos estão reunidos no Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) 70 e o Projeto de Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, chamada resumidamente de Lei Ônibus. Todos são considerados projetos de destruição para a população.

No final de abril, o governo ultraliberal conseguiu aprovar a Lei Ônibus. Entre vários ataques, a medida traz uma lista de empresas estatais que podem ser privatizadas, concentra poderes nas mãos de Milei e promove ainda uma pequena reforma trabalhista. A greve, porém, coloca a tramitação do projeto, atualmente em análise nas comissões do Senado, em teste. A paralisação de hoje, porém, não prevê mobilização nas ruas.

Adesão em massa à greve na Argentina

“O impacto causado pelo ajuste de preços e tarifas que está sendo realizado com o único objetivo de reduzir os salários, apenas nos leva a um processo recessivo inaceitável. Por esse motivo, tomamos a decisão de convocar uma greve de 24 horas em 9 de maio”, afirmou o dirigente sindical da CGT Héctor Daer no ato de convocação.

O secretário geral da Associação dos Trabalhadores do Estado, Rodolfo Aguiar, confirmou que a paralisação dos funcionários públicos “é quase total”. A avaliação é de que cerca de 97% da categoria cruzou os braços nesta quinta. “Nós, trabalhadores do Estado, estamos parando por conta das demissões e da redução de salários, entre outras questões”, afirmou Aguiar. A greve também marca a chamada “colheita grossa”, o período de maior produção da Argentina, importante exportador mundial de alimentos.

O próprio decreto de paralisação, feito no início de abril, foi considerado um fracasso do partido no poder. “A situação econômica e social torna impossível pensar em suspender uma medida de força”, destacou a CGT. “Somos o eixo da luta contra o governo, conquistamos esse lugar”.

Superávit de Milei é ‘picaretagem’

Milei alega que as políticas de ajustes são necessárias para organizar as finanças públicas e as dívidas, como as do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de US$ 44 bilhões. O governo alega ter tido supostos progressos na condução da economia argentina. Em janeiro e fevereiro, o país registrou superávit fiscal pela primeira vez em mais de uma década. No entanto, a Argentina enfrenta uma forte recessão econômica, com inflação que beira os 290% ao ano.

A avaliação de especialistas é de que o plano “motosserra” de corte de gastos de Milei tem cobrado alto custo da população. A previsão do próprio FMI é que o PIB da Argentina registra retração de 2,8% em 2024. De acordo com a Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), a venda de medicamentos, por exemplo, sofreu queda de 42,4% nos dois primeiros meses do ano. Já os dados do Observatório da Dívida Social, da Universidade Católica Argentina (UCA), mostram que a taxa de pobreza no país passou de 49,5% para 57,4%, atingindo seu patamar mais elevado desde 2004.

Nesse sentido, o professor titular do Bacharelado em Ciências Econômicas e da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Ramon Garcia-Fernandez afirmou à RBA que o sucesso do ajuste fiscal de Milei é insustentável. “O superávit das contas públicas está sendo obtido com o adiamento de pagamentos. Assim até eu consigo”, ironizou o economista argentino que vive no Brasil. “Posso aumentar minha poupança, se continuo recebendo e não pago para ninguém. Se você adia todos os pagamentos, vai ter superávit, obviamente. Mas isso é uma estratégia sustentável? Pareceria mais uma picaretagem.”

Por Rede Brasil Atual

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