São Paulo – O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta terça-feira (11) que a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro com a Justiça se agravou com a descoberta de uma nova joia negociada por aliados. A PF afirma ter provas de que Bolsonaro foi informado e deu aval para operações de comercialização da joia nos EUA. A transação, que não aparecia entre as peças sauditas que vêm sendo investigadas, foi descoberta durante diligência naquele país, em cooperação com a polícia federal local, o FBI.
Os investigadores encontraram um vídeo com a joia vendida por emissários do ex-presidente. De acordo com informações do jornal O Globo, a PF agora realizará novos depoimentos para identificar os detalhes da operação comercial. Assim como procedência e destino da peça. Entre os nomes que devem ser chamados está o do ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. Ele é delator da investigação sobre as joias sauditas.
Em depoimento à PF no ano passado, Cid, que era ajudante de ordens e braço direito do ex-presidente ao longo de seu mandato, delatou que entregou “nas mãos” de Bolsonaro o dinheiro da venda de joias recebidas como presentes de Estado. Cid admitiu ter participado da venda de dois relógios de luxo – um Patek Philippe e um Rolex – recebidos pelo ex-presidente. A venda total teria sido no valor de US$ 68 mil. Com o valor entregue de forma parcelada, com uma parte repassada nos EUA e outra no Brasil para Bolsonaro.
Joias e o enriquecimento ilícito de Bolsonaro
A transação, realizada na surdina nos EUA, foi descoberta pela Polícia Federal, logo após o ex-mandatário viajar ao país, no fim do ano passado, acompanhado de Cid e levando na bagagem dois kits de joias. De acordo com os investigadores, embora pertencesse ao Estado Brasileiro, o relógio Patek vendido, por exemplo, nem sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes. Para a PF, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar os bens públicos de alto valor para enriquecimento ilícito.
Com a joia recém descoberta, a Polícia Federal também suspeita que o item também tenha sido um presente que Bolsonaro ganhou como presidente da República, do qual se apropriou ilegalmente. “A nossa diligência localizou que, além dessas joias que já sabíamos que existiam, houve negociação de outra joia que não estava no foco dessa investigação. Não sei se ela já foi vendida ou não foi. Mas houve o encontro de um novo bem vendido ou tentado ser vendido no exterior. Tecnicamente falando, isso robustece a investigação que se tem feito”, disse o diretor da PF em coletiva de imprensa.
Na delação, Cid detalhou que o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta de seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, amigo do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Logo depois, o montante foi sacado e entregue diretamente para Bolsonaro. O ex-mandatário nega o recebimento de dinheiro referente à venda ilegal de joias. Sua defesa também argumenta que os presentes podem ser classificados como “personalíssimos”. E por isso faziam parte do acervo pessoal do então chefe do Executivo, que poderia comercializá-los.
Bolsonaro indiciado
No entanto, de acordo com o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro estava “preocupado com a vida financeira”, porque havia sido “condenado a pagar várias multas”. O ex-faz-tudo também alegou que sabia que a venda poderia ser “imoral”, mas não “ilegal”.
Se comprovada as denúncias, Bolsonaro pode ser indiciado no caso por peculato (tomar posse de bem público em razão do cargo), segundo avaliam investigadores. O crime é tipificado com pena de prisão que varia de 2 a 12 anos. A prisão também pode ser em regime fechado caso a pena final total supere a oito anos. Além da detenção, o ex-presidente também pode ser condenado ao pagamento de multa. Andrei Rodrigues afirmou que a expectativa é que o caso seja concluído ainda neste mês.
O ex-presidente também pode ser indiciado agora em junho pelo inquérito que investiga fraudes no cartão de vacinação. O relatório da investigação já havia sido enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu diligências adicionais, que já foram concluídas.
Fonte: Rede Brasil Atual