Por Julimar Roberto*
O McDonald’s, gigante mundial do fast-food, se orgulha de seus “valores inflexíveis”. Essa suposta inflexibilidade foi motivo para a retirada da empresa da Rússia após o início do conflito com a Ucrânia, alegando que permanecer no país seria uma violação de seus princípios. Mas, será que essa mesma rigidez ética se aplica ao tratamento de seus funcionários?
Os inúmeros casos de funcionários que sofrem racismo, humilhação, assédio moral e sexual, e toda forma de desrespeito dentro de unidades do McDonald’s no Brasil sugerem que a realidade pode ser bem diferente. São incontáveis denúncias de abusos que aguardam reparação judicial. O resultado? Acordos rápidos e baratos, cercados de confidencialidade, que parecem ser a prática padrão da empresa para lidar com reclamações trabalhistas.
Afinal, que valores são esses que o McDonald’s defende com tanta veemência na Rússia, mas parece ignorar quando se trata dos seus próprios funcionários? Um olhar mais atento revela que a empresa adota uma política de silenciamento, oferecendo indenizações irrisórias que mal compensam os danos sofridos. Acordos que variam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil são a norma, um valor que, convenhamos, é um troco para uma empresa avaliada em US$ 45,8 bilhões.
O McDonald’s, como grande parte das multinacionais, está sempre pronto para mostrar sua face ética quando convém. No entanto, nos bastidores, longe dos comerciais coloridos e do marketing abrasileirado que nos faz acreditar que todos temos uma “méquizice” em comum, a realidade é bem mais amarga. Humilhações, assédios e discriminação parecem ser parte do pacote, ao lado dos hambúrgueres requentados e dos salários miseráveis.
Enquanto na Rússia o McDonald’s declara que não pode compactuar com violações de direitos humanos, em suas cozinhas, a história é bastante diferente. A pergunta que fica é: será que o preço de manter a fachada de uma empresa ética é mais baixo do que realmente treinar e proteger seus trabalhadores?
A ironia é palpável. Uma empresa que preza tanto por seus valores no cenário internacional, mas que parece incapaz de aplicá-los dentro de suas próprias lojas. Talvez a inflexibilidade do McDonald’s seja realmente seletiva, moldando-se conforme a conveniência e, claro, o lucro.
*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT