Por Julimar Roberto
Desde 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) traz o 18 de setembro como a Dia Internacional da Igualdade Salarial, uma importante data para refletirmos sobre a persistente desigualdade salarial que existe entre homens e mulheres. Essa disparidade – mazela quase mundial – é um problema estrutural, que atravessa fronteiras e setores, e mesmo com avanços recentes, como a nova legislação brasileira que busca reduzir essa diferença, o cenário continua alarmante.
Talvez o problema esteja em tentarmos combater a consequência, quando talvez fosse mais fácil atacarmos as variadas causas. É importante assinalar que a desigualdade salarial é um dos reflexos da subvalorização das profissões tradicionalmente ocupadas por mulheres, principalmente as ocupações de cuidado, e da falta de equidade nas oportunidades de educação, carreira e liderança. A automação e a exclusão tecnológica também ampliam o abismo, pois muitas mulheres ficam à margem dos setores mais bem remunerados. Essa situação perpetua a concentração de mulheres em empregos de médio ou baixo rendimento, sem perspectivas de crescimento.
Se nada de efetivo for feito, a ONU projeta que, no ritmo atual, levaremos séculos para alcançar a igualdade econômica entre os gêneros e isso é inaceitável. É verdade que o Brasil avançou com a recente legislação, exigindo que empresas apresentem relatórios sobre remuneração. Contudo, a mudança precisa ir além da regulamentação. O desafio é cultural e requer um compromisso coletivo. As empresas precisam implementar políticas de inclusão e capacitação para mulheres, não apenas para cumprir a lei, mas para reconhecer o valor que elas trazem ao mercado. A questão vai além do salário, trata-se de garantir a igualdade de oportunidades.
Um ponto que chama a atenção é a disparidade ainda maior quando falamos de mulheres negras, que recebem menos da metade do salário de homens não negros. Esses dados são um choque de realidade e nos lembram que a luta por igualdade salarial está intrinsecamente ligada ao combate ao racismo e à promoção da diversidade nas organizações. As políticas de incentivo à contratação de mulheres negras são um passo, mas precisamos de mais ações práticas e educativas para mudar esse panorama.
A desigualdade salarial também é resultado da divisão desigual das responsabilidades de cuidado. As mulheres ainda dedicam o dobro do tempo que os homens às atividades domésticas e de cuidado, o que limita suas oportunidades de avanço no mercado de trabalho. Por isso, falar de igualdade salarial é também falar da necessidade de serviços de cuidado infantil acessíveis e, principalmente, de políticas que incentivem uma divisão mais justa dessas responsabilidades.
Para mim, o Dia Internacional da Igualdade Salarial não é apenas um dia de conscientização; é um chamado à ação. Não podemos mais aceitar que as mulheres ganhem menos por trabalhos iguais. Precisamos cobrar a implementação efetiva das leis que promovem essa igualdade e denunciar as práticas discriminatórias que ainda persistem. A sociedade como um todo – governos, empresas, organizações e indivíduos – tem um papel fundamental em promover um ambiente onde mulheres sejam remuneradas e valorizadas de maneira justa.
Transparência salarial, promoção da diversidade e incentivo à qualificação de mulheres são algumas das medidas necessárias para alcançar essa equidade. Não podemos esperar 300 anos para que a igualdade de gênero se torne realidade. Essa é uma responsabilidade que precisa ser assumida por todo o conjunto da nossa sociedade. A hora de agir é agora, para que as futuras gerações não tenham que lutar pelas mesmas conquistas.
Foto: ABR