Por Julimar Roberto
As privatizações, prometidas como sinônimo de eficiência, revelam-se uma tragédia para os serviços essenciais. Sob o pretexto do Estado mínimo, governos entregaram setores estratégicos ao mercado, priorizando lucros em detrimento do bem-estar público. Exemplos recentes, como o apagão em São Paulo, expõem os impactos desse modelo para a população.
Em São Paulo, um temporal evidenciou a ineficiência da Enel, responsável pela distribuição de energia no estado. Pelo menos 2,1 milhões de pessoas foram afetadas pelo apagão que, além da capital, em especial a zona sul, atingiu também cidades vizinhas como Cotia, Taboão da Serra e São Bernardo do Campo. A empresa (Enel), que reduziu sua força de trabalho de 27 mil para 15 mil funcionários entre 2020 e 2023, ilustra bem como o corte de investimentos maximiza lucros às custas da qualidade do serviço.
Outro exemplo alarmante é a privatização da água. A entrega desse recurso ao mercado ameaça a universalização do saneamento e afeta desproporcionalmente as populações vulneráveis. Segundo a Fiocruz, 40% das mulheres negras não têm acesso à coleta de esgoto, frente a 35% dos homens brancos. Privatizar amplia desigualdades e agrava doenças como diarreia e hepatite. No Rio de Janeiro, a venda da Cedae se transformou em um jogo financeiro, onde áreas rentáveis são priorizadas enquanto outras ficam à margem.
Os desastres ambientais, como o rompimento das barragens privatizadas em Mariana e Brumadinho, são um trágico reflexo desse modelo. A gestão negligente de empresas como Samarco e Vale, focadas em reduzir custos e aumentar lucros, resultou em centenas de mortes e danos irreparáveis ao meio ambiente e àquelas comunidades. Esses episódios exemplificam como a desregulação e a busca incessante por lucro comprometem a segurança pública e o patrimônio natural.
A privatização não apenas precariza serviços e aumenta tarifas, mas também transfere o custo dos investimentos para a população. No Chile, onde a água foi privatizada durante a ditadura de Pinochet, o modelo fracassou, levando a um movimento de reestatização. O Brasil precisa aprender com essas lições e reverter a entrega de serviços essenciais.
Serviços públicos existem para garantir acesso igualitário e segurança, não para atender interesses privados. A insistência – de alguns governos – pelo Estado mínimo tem desmantelado o patrimônio público e colocado lucros acima das pessoas. Reverter essa trajetória é urgente para assegurar dignidade e direitos fundamentais a todos, todas e todes.
Foto: Richard Lourenço/Rede Câmara