Por Julimar Roberto*
A revelação de um plano criminoso para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes é mais um duro golpe na democracia brasileira. Após quase dois anos de investigações detalhadas, a Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito que expõe a existência de uma organização criminosa coordenada para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições de 2022. A Operação Contragolpe revela que o golpismo foi muito além da retórica: estava armado, organizado e infiltrado nos altos escalões do Governo Federal.
As acusações são baseadas em uma série de provas obtidas por meio de quebras de sigilo telemático, fiscal e bancário, colaboração premiada, além de buscas e apreensões realizadas com autorização judicial. Segundo a PF, os envolvidos se organizaram em diferentes frentes de atuação que incluíram a disseminação de fake news sobre o sistema eleitoral, a mobilização de militares, a criação de uma estrutura paralela de inteligência e até ações operacionais para sustentar o projeto golpista.
A investigação revela como essas ações não foram isoladas, mas parte de um esforço integrado para minar as bases do Estado Democrático de Direito. O objetivo central era inviabilizar o processo eleitoral e perpetuar Bolsonaro no poder, ignorando a soberania popular expressa nas urnas. Segundo o inquérito, o descrédito ao sistema eleitoral, promovido por Bolsonaro e aliados, desempenhou um importante papel na mobilização de seguidores e na criação de um ambiente de instabilidade política.
A cronologia detalhada pela PF mostra reuniões, documentos impressos no Planalto e diálogos que indicam a participação de militares e assessores estratégicos de Bolsonaro. Mais do que isso, sugere que o então presidente estava ciente, senão diretamente envolvido, no planejamento de atos terroristas.
É aterrador! Quando um general imprime planos para executar autoridades no Palácio do Planalto e se reúne no Alvorada com o presidente da República, não estamos diante de um ato isolado ou amador. Estamos falando de uma conspiração articulada, que tinha como objetivo não apenas desestabilizar o processo democrático, mas promover assassinatos e implantar um regime autoritário.
Mais que nunca, exigimos justiça! O Brasil já cometeu o erro de passar a borracha nos crimes da ditadura militar. Essa impunidade histórica ecoa até hoje, incentivando novos atos golpistas. Não podemos permitir que isso se repita. Golpistas não são heróis, e a tentativa de destituir um governo legítimo pelas vias da violência é um crime hediondo contra o país.
Se o ex-ministro de Defesa do Brasil, Walter Braga Netto sabia, é evidente que Bolsonaro sabia. Se assessores de confiança, como Mauro Cid, participaram ativamente, é inconcebível imaginar que o ex-presidente estava alheio. As investigações da PF já indicam que Bolsonaro acompanhava de perto os atos de seus subordinados e deu aval para a execução do plano até o último dia de seu mandato.
O Brasil precisa de respostas. Os envolvidos devem ser responsabilizados e julgados com o rigor da lei. Não se trata de revanchismo, mas de proteger o país de futuros ataques. Sem punições exemplares, continuaremos à mercê de grupos que não respeitam as urnas, a Constituição e o povo.
Nossa democracia é jovem, mas é forte porque foi construída com o sangue, a luta e a esperança de milhões de brasileiros. Não podemos permitir que o Estado Democrático de Direito seja usurpado por aqueles que se julgam acima da vontade popular. Golpistas não passarão! Sem anistia para golpistas! Que os culpados sejam condenados e que a memória desse golpe frustrado sirva como um alerta de que a nossa democracia não pode ser negociada.
* Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT