Por Julimar Roberto*
Mais uma vez, o Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, agora para 13,25% ao ano. Sob o comando de Gabriel Galípolo, a expectativa era de uma mudança de postura, mas a alta seguiu o mesmo receituário da gestão anterior. A justificativa? O controle da inflação. No entanto, essa abordagem já se mostrou equivocada e prejudicial para a economia, o emprego e o bem-estar social.
Lamentavelmente, o Brasil segue refém de um modelo de política monetária ultrapassado, que trata a inflação com um único remédio que são os juros altos. O problema é que esse remédio tem efeitos colaterais graves. Empresas investem menos, consumidores perdem poder de compra e o crescimento econômico é sufocado. Enquanto isso, os verdadeiros beneficiários dessa política são os rentistas e o sistema financeiro, que lucram com títulos da dívida pública e investimentos de baixo risco.
A inflação brasileira, longe de estar descontrolada, poderia ser combatida com medidas mais inteligentes. Um dos principais fatores que pressionam os preços são os alimentos e o dólar. Em vez de elevar os juros, o Banco Central poderia atuar mais fortemente no câmbio, estabilizando a moeda e reduzindo impactos inflacionários. Além disso, medidas como a criação de fundos estabilizadores para produtos essenciais poderiam evitar aumentos excessivos nos preços sem comprometer o crescimento econômico.
O presidente Lula demonstrou paciência e confiança no novo comando do Banco Central, ciente das dificuldades de mudar a direção dessa política monetária de uma hora para outra. No entanto, a pressão precisa continuar para que a Selic caia e o Brasil possa retomar um ciclo virtuoso de crescimento. Manter os juros elevados apenas atende aos interesses do setor financeiro, enquanto a maioria dos brasileiros paga a conta.
Estamos andando na contramão no desenvolvimento. A alta do emprego e da renda deveria ser motivo de comemoração, mas a resposta do Banco Central tem sido punir a economia real com taxas proibitivas. Enquanto a Selic continuar nesse patamar insustentável, o país ficará preso a um modelo que inibe investimentos e mantém milhões de brasileiros e brasileiras à margem da dignidade.
Não basta trocar o comando do Banco Central, é preciso mudar a mentalidade que guia suas decisões. O Brasil precisa de uma política monetária alinhada com os interesses do povo, que promova o crescimento sustentável e combata a inflação sem estrangular o desenvolvimento. A alta dos juros não pode ser um dogma intocável. É hora de romper esse ciclo vicioso e abrir caminho para um futuro de mais oportunidades para todos, todas e todes.
* Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT