sexta-feira, março 28, 2025

Joias, golpe e caixa de vinho

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Por Julimar Roberto*

 

A gente sabe que a história da política brasileira nunca foi monótona, mas convenhamos que Jair Bolsonaro e sua trupe transformaram o país em um espetáculo tragicômico digno de um dorama coreano. Enfim! Se no passado os escândalos eram temperados com algum grau de dissimulação, agora nem isso. Graças à delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-mito, finalmente temos a confissão detalhada de uma tentativa de golpe que, além de inconstitucional, foi absolutamente patética.

O que antes era negado com indignação agora escorre pelas páginas da delação como vinho de uma caixa bem armazenada no Palácio da Alvorada. Sim, porque em pleno século XXI, em vez de contas cifradas em paraísos fiscais, transações sofisticadas ou criptomoedas, o dinheiro para bancar um golpe de Estado circulava dentro de uma caixa de vinho. Se fosse um filme, diríamos que os roteiristas tinham exagerado na dose.

O drama segue com elementos de uma série clássica dividida em episódios semanais. Mauro Cid, outrora o fiel escudeiro, revelou detalhes sobre o envolvimento direto de Bolsonaro e de seus filhos na trama golpista. Flávio Bolsonaro, sempre o mais ponderado, queria apenas liderar a oposição, enquanto Eduardo “Bananinha” Bolsonaro encabeçava a ala radical, que ainda acreditava no conto da fraude eleitoral. O que dizer? Não basta ser filho do capitão, tem que querer brincar de guerra, não é mesmo?!

E as joias sauditas? Ah, esse capítulo merece um destaque especial. Bolsonaro, o autoproclamado inimigo da corrupção, recebeu presentes milionários de um governo estrangeiro e, ao invés de entregá-los ao Estado, como manda a lei, mandou Cid vendê-los no exterior. O dinheiro, claro, foi parar no bolso do “imbrochável”. O mais curioso é que tudo foi feito às claras, sem nenhuma sofisticação – apenas um ex-presidente recebendo pacotes e mais pacotes de dinheiro e ninguém achando isso estranho.

Os detalhes da tentativa de golpe são igualmente ridículos. Grupos militares divididos entre os mais “exaltados” e os que tentavam frear o presidente, e reuniões conspiratórias onde até a espionagem de ministros era cogitada, compuseram o making-of desse pastelão. Isso sem falar na insistência de Bolsonaro em se apegar a um plano que não tinha o menor respaldo popular ou militar. Por fim, os aliados perceberam que o barco estava afundando e correram para salvar suas próprias peles, deixando Bolsonaro a sós com sua paranoia.

Seria irônico, se não fosse trágico, o fato de que ex-capitão sempre se vendeu como o bastião da moralidade, aquele que livraria o Brasil da corrupção e do “toma-lá-dá-cá”. No entanto, a máscara caiu e a figura que vemos é de um verdadeiro bufão que, além de conspirar contra a democracia, se apegou a joias, caixas de dinheiro e teorias conspiratórias de WhatsApp.

Ao final, não podemos nos esquecer que esse período funesto custou muito caro para o Brasil — e o preço foi pago em vidas, democracia e dignidade. Por isso, seguimos exigindo que os culpados sejam responsabilizados e que a Justiça seja feita – e que não demore ainda mais.

Sem anistia para golpistas!

 

* Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT

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