Por Julimar Roberto*
Com 234 assinaturas favoráveis – 63 a mais do que o mínimo exigido – a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que põe fim à jornada 6×1 começou a tramitar na Câmara dos Deputados. Protocolada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-RJ), a matéria recebeu apoio não só de todos os parlamentares de esquerda, mas também de representantes do centro e da direita, sinalizando a importância da pauta.
A jornada 6×1 nasceu num contexto de intensa industrialização, quando a prioridade era maximizar a produtividade a qualquer custo. Naquele período, trabalhar seis dias consecutivos com apenas um dia de descanso era visto como um experimento necessário para atender às exigências de uma nova era produtiva. Contudo, com o passar dos anos, tornou-se evidente que esse modelo, cruel e ultrapassado, causa danos profundos à saúde física e mental dos trabalhadores e das trabalhadoras. Essa carga de trabalho compromete não apenas a qualidade de vida individual, mas também o convívio familiar e o direito ao lazer, elementos essenciais para uma vida digna.
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Já a proposta de adoção da jornada 4×3 – quatro dias de trabalho seguidos de três dias de descanso – apresenta a solução que pode transformar a realidade de muita gente. Com mais dias livres, homens, mulheres, jovens e idosos, terão a oportunidade de dedicar mais tempo às suas vidas pessoais e familiares, permitindo uma recuperação mais completa do desgaste físico e mental. Essa pausa prolongada não só reduz o estresse e a fadiga, mas também contribui para que esses trabalhadores retornem ao expediente com mais energia, motivação e foco, o que naturalmente se reflete em uma maior produtividade.
Os benefícios dessa mudança se estendem também à sociedade e às empresas. Uma população mais descansada e saudável tende a dinamizar a economia, já que o tempo livre estimula o consumo de bens e serviços, gerando um ciclo de crescimento. Do ponto de vista empresarial, oferecer condições laborais que valorizem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal não é um prejuízo, mas um investimento estratégico. Funcionários motivados e satisfeitos são mais engajados e produtivos, o que, por sua vez, pode reduzir os custos com saúde e segurança, além de diminuir a rotatividade e as faltas.
Para acompanhar os avanços tecnológicos e a crescente presença da inteligência artificial, é fundamental abandonar práticas que não atendem mais aos desafios e às demandas da atualidade. Se tudo evolui, as relações de trabalho também precisam seguir nesse caminho. Por isso, a PEC que visa acabar com a jornada 6×1 representa um avanço histórico rumo a um ambiente de trabalho mais justo, saudável e produtivo para todos e todas.
Agora, é fundamental que o Congresso Nacional dê a devida atenção a essa proposta, reconhecendo que a transformação das condições de trabalho é uma necessidade que beneficia não apenas os trabalhadores, mas toda a sociedade e o setor produtivo. O futuro do trabalho no Brasil parte dessa mudança, e devemos abraçar, de forma conjunta, essa nova era que propõe a valorização de quem faz, verdadeiramente, a economia do nosso país funcionar.
* Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT