O segundo e último dia da 5ª Plenária Nacional Estatutária da Contracs foi marcado por intensos debates que reafirmaram o compromisso da entidade com a defesa da democracia e a luta pelos direitos da classe trabalhadora. Realizada de forma virtual, a programação contou com mesas que abordaram temas centrais para o movimento sindical, como jornada de trabalho, saúde física e mental, interseccionalidade e enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão.
A primeira mesa de debates enfocou o tema “Jornada de Trabalho, Saúde e Qualidade de Vida: o fim da jornada 6×1”, conduzida pela economista Marilane Teixeira. A palestrante ressaltou que esse modelo de jornada, que concede apenas um dia de descanso na semana, é incompatível com a dignidade humana e tem impactos diretos sobre a saúde e a vida social dos trabalhadores.
Segundo a especialista, o atual regime provoca altos índices de adoecimento físico e mental, aumenta o risco de acidentes e retira do trabalhador o tempo necessário para que ele usufrua de direitos básicos.
“Um trabalhador descansado rende mais, trabalha mais motivado e com mais segurança. Pesquisas mostram que a maior parte dos acidentes acontece no fim dos expedientes, quando o cansaço físico e a estafa mental já se impõem. É a prova de que jornadas exaustivas não servem nem ao trabalhador, nem ao próprio processo produtivo”, enfatizou.
A advogada Sarah Coly abriu a mesa sobre saúde da classe trabalhadora destacando o alto índice de adoecimento e o medo que muitos empregados têm de reivindicar seus direitos por receio de retaliações. A assessora jurídica chamou atenção para os ambientes de trabalho insalubres, trouxe dados atualizados sobre assédio e vícios laborais e criticou a cultura da meritocracia e da pressão por resultados a qualquer custo.
Na sequência, a secretária de Mulheres da CUT, Amanda Corcino, tratou da interseccionalidade no sindicalismo, ressaltando a importância de garantir a participação de mulheres, negros, jovens e pessoas com deficiência de forma efetiva nas entidades.
“Nós, do mundo sindical, precisamos dar o exemplo e agir conforme as bandeiras que defendemos, da paridade, da igualdade de direitos e do respeito às diversidades. Só assim teremos legitimidade para cobrar da sociedade e dos governos mudanças concretas”, defendeu a dirigente.
Durante a tarde, a advogada do SEIU, Betina Piza, trouxe dados alarmantes sobre o trabalho análogo à escravidão. Ela lembrou que até 1995 esse crime sequer era reconhecido no Brasil e que, entre 1995 e 2022, foram registradas cerca de 60 mil pessoas em condições análogas à escravidão.
A deputada federal Jack Rocha (PT-ES) também participou da plenária, destacando a necessidade de um sindicalismo inclusivo e comprometido com o enfrentamento das desigualdades estruturais. A parlamentar mencionou episódios de discriminação racial, como o de empresas que orientavam funcionários a inibir a presença de pessoas negras, e ressaltou a importância de assegurar que a classe trabalhadora tenha representação efetiva também nos espaços do Executivo e do Judiciário.
No encerramento, o presidente da Contracs, Julimar Roberto, destacou a importância da unidade sindical e da resistência coletiva. “Encerramos esta 5ª Plenária Nacional Estatutária com a certeza consolidada de que não estamos sozinhos. Estamos organizados, fortalecidos e determinados a seguir em frente. Saímos daqui mais unidos, preparados para enfrentar os desafios em unidade e confiantes de que, juntos, seremos capazes de transformar a realidade da classe trabalhadora”, afirmou.
O dirigente concluiu agradecendo a participação de todas, todos e todes e parafraseou um célere pensamento que, segundo ele, traduz o sentimento da plenária: “Mais importante que a guerra é quem está ao nosso lado nas trincheiras”.
O encontro – que durou dois dias – foi encerrado com a aprovação de emendas ao Texto-Base, a atualização do Plano de Lutas e a apresentação de moções, consolidando as deliberações que orientarão a atuação da Confederação no próximo período.