Por Julimar Roberto*
A recente avalanche de acusações contra Jair Bolsonaro, envolvendo o desvio e venda de joias do acervo público da Presidência da República, é mais um episódio lamentável e vergonhoso na história política brasileira, protagonizado pelo inelegível. As explicações frágeis e contraditórias fornecidas pelo ex-presidente sobre o destino dessas joias não convenceram a Polícia Federal (PF). Em um relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF apontou uma série de contradições do ex-capitão da extrema direita que foi indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos (peculato).
Segundo a PF, Bolsonaro mentiu sobre o paradeiro das joias, incluindo um valioso kit da marca suíça Chopard, que supostamente teria sido guardado na fazenda de Nelson Piquet. Investigações revelaram que o ex-presidente transportou o kit para a Flórida, nos Estados Unidos, com a intenção de vendê-lo. A tentativa de esconder essas ações só reforça a culpa do ex-mandatário.
O relatório apresentou as manobras em detalhes e trouxe à tona o modus operandi da quadrilha liderada pelo ex-mito, incluindo a comprovação de mensagens nas quais ele se referia ao esquema com a expressão ‘Selva’ – um jargão militar – além de várias outras conversas comprometedoras que foram apagadas – e recuperadas. Além disso, a PF encontrou registros de navegação no celular de Bolsonaro que comprovam sua intenção de vender as joias em leilões nos Estados Unidos. Essas provas, juntamente com os depoimentos de envolvidos como Mauro Cid e Marcelo Vieira, configuram um esquema de corrupção que envolve diretamente o ex-presidente.
Entre as joias desviadas, estão peças de altíssimo valor recebidas de países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. O dossiê revela que apenas 55 dos cerca de 9 mil itens presenteados a Bolsonaro foram classificados como acervo público, evidenciando o rombo no acervo presidencial.
As viagens frequentes do inelegível ao mundo árabe, durante as quais ele recebeu numerosos presentes valiosos, também levantaram suspeitas sobre a lisura de suas ações enquanto chefe de Estado. A venda da refinaria Landulpho Alves (RLAM) pela Petrobras ao fundo Mubadala dos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, está sob investigação por ter sido realizada a um preço muito abaixo do valor de mercado.
A foto publicada pela colunista Bela Megale, que mostra Bolsonaro recebendo dinheiro em espécie pela venda das joias em um hotel em Nova York, é mais uma peça incriminadora deste quebra-cabeça de corrupção. A investigação revela ainda que o dinheiro obtido com a venda das joias foi utilizado para bancar despesas pessoais do ex-capitão e sua família durante o período em que estiveram nos Estados Unidos.
Não é surpresa para ninguém que Bolsonaro se revelou corrupto, manipulador e desonesto. Todo mundo já sabia disso, mas agora há evidências concretas e detalhadas. As provas são contundentes e apontam para o desvio deliberado de recursos públicos para os próprios bolsos. Mas esta é somente a ponta do iceberg e reservo-me o direito de dizer: “eu avisei”.
*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT
:: Artigo publicado originalmente em Brasil 247