sexta-feira, outubro 4, 2024

5ª Marcha das Margaridas encerra com entrega de pauta de reivindicações à Dilma

Leia também

Encerramento floriu o gramado do estádio Mané Garrincha

O latifúndio matou Margarida Alves, mas ele não sabia que ela era a semente de milhares de margaridas que estão aqui hoje. Margarida inspirou a construção desta marcha há 15 anos e continua nos inspirando e nos mobilizando. Foi com estas palavras que a cerimônia de encerramento da 5º Marcha das Margaridas iniciou às 16 horas da última quarta-feira (13) no gramado do estádio Mané Garrincha, em Brasília. O local, que recebeu as margaridas desde a segunda-feira (10), mais uma vez se floriu para entregar a pauta de reivindicações das mulheres do campo, das águas, da floresta e da cidade para a presidenta Dilma Roussef.

No centro do gramado, dentro de uma margarida – o eterno símbolo de luta e resistência das mulheres do campo – reuniram-se representantes da organização e da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a secretária de mulheres da CUT Rosane Silva, a representante da Marcha Mundial das Mulheres Nalu Farias, ministros e a margarida de coração valente Dilma Roussef.

Na cerimônia de encerramento, a Marcha reafirmou que não aceita o retrocesso, a retirada de direitos que foram tão duramente conquistados pela luta e nem mesmo qualquer forma de golpe. “Seguimos em marcha pela democracia e por um Brasil soberano, laico, justo e igualitário e por uma vida livre de violência.”

O Presidente da Contag, Alberto Broch, afirmou que o momento era histórico, de emoção, alegria e esperança. O evento, segundo ele, contou com a participação de mais de 15 países. “Este, sem dúvida nenhuma, é um dos maiores movimentos do País organizado pelas mulheres com o apoio dos nossos sindicatos, federações e da Contag.” Em sua saudação, Alberto Broch pontuou as bandeiras do campo reafirmadas pela 5ª Marcha, tais como o acesso à terra e aos recursos naturais, à reforma agrária, às políticas de crédito fundiário e de fortalecimento da agricultura familiar, a bandeira contra a discriminação e a violência e o compromisso por um país mais justo e democrático. “Que ele [o País] nunca volte para trás, mas siga seu horizonte sempre para frente por mais justiça e por mais igualdade. Por isso, a marcha levanta a bandeira contra qualquer golpe. Nós somos contra aqueles que querem o regresso deste país. Reafirmamos a democracia para que o nosso País seja cada vez mais justo. Que o campo seja cada vez mais justo, mais igualitário para que possamos produzir alimentos, produzir cultura e produzir a vida. Viva a 5ª Marcha das Margaridas.”

Nalu Farias, da Marcha Mundial das Mulheres, destacou a importância da Marcha das Margaridas e da unidade das mulheres como fator preponderante para mudar o mundo. “Aqui estão mulheres decididas que desafiam todos os dias estruturas e relações opressoras profundamente enraizadas em nossa sociedade.” mencionou. Para Nalu, o movimento que nasceu em memória à Margarida Maria Alves e seu legado se transformou ao longo dos anos. Se começou lutando conta a fome, a pobreza e a violência, hoje a Marcha representa algo muito maior. “E deste trajeto, destes 15 anos da Marcha, as margaridas foram mudando as suas vidas, mudando o Brasil, contribuindo e servindo de inspiração para outros países e para mulheres de outros povos. E esta mudança se dá justamente pela força da organização que faz com que nós possamos expressar um ponto de vista coletivo das mulheres e, assim, as margaridas foram saindo da invisibilidade, conquistando o reconhecimento do seu trabalho na produção e dos cuidados. Já não são mais as que ajudam, são as que produzem, são as que transmitem saberes, são as que contribuem para preservar a semente, são as que lutam contra a mercantilização da natureza, são as margaridas mulheres que expressam seus sonhos, seus desejos, trazendo à luz seus saberes.”

A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci, ressaltou que o encontro daquela tarde era de mulheres resistentes e citou Dilma Roussef como uma mulher que simboliza a resistência pelo período que viveu e foi presa na ditadura militar brasileira. “Essa mulher forte e resistente e de coração valente que hoje preside o nosso querido Brasil recebe aqui, na capital federal, milhares de mulheres igualmente resistentes.”

Eleonora lembrou que é a quinta vez que as mulheres do campo, das águas e da floresta ocupam os espaços da capital federal com suas cores, bandeiras e lutas e marcham por um país diferente para todas as mulheres. Ao destacar as diferenças do Brasil de 2000 – quando marcharam pela primeira vez – e do Brasil de 2011 – quando marcharam pela última – com o Brasil de hoje, a ministra destacou diversos avanços conquistados pelas mulheres.

Segundo ela, hoje as mulheres são: titulares de 93% dos cartões do bolsa-família; responsáveis por 73% das cisternas instaladas no Nordeste; titulares de 89% das moradias da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida; quase 50% dos microempreendedores individuais brasileiros; responsáveis por 58% das matrículas do Pronatec; 52% das bolsas do ProUni e 58% dos contratos do Fies. Ao pontuar avanços, a ministra não esqueceu de constatar que ainda há muito o que se fazer. “Certamente há muito para fazermos. E faremos juntas ouvindo as reivindicações e construindo juntas políticas públicas efetivas. Unidades Móveis e a Casa da Mulher Brasileira são exemplos de reivindicações realizadas. Muitas das pautas que vocês nos trazem serão atendidas. Algumas, não neste momento. Mas certamente estaremos juntas construindo avanços e tenho absoluta certeza que aqui vocês encontram um governo que as respeita e dialoga sempre, sempre e sempre por entender a força e a legitimidade que as lutas destas mulheres resistentes que vocês são e o que representam para o Brasil.” finalizou.

A secretária de mulheres rurais da Contag, Alessandra Lunas, lembrou que a Marcha representou não só as mulheres das cinco regiões do País como também as mulheres de todo o mundo. Alessandra frisou a presença de muitos homens, que se somaram à luta das mulheres que possuem uma extensa pauta. “As mulheres vem defendendo, inclusive, não só o que é de interesse das mulheres, mas o que é de interesse de todos e todas nós.”

“Por si só, essa força e ousadia destas mulheres de estarem juntas na luta, de estarem unidas. Para mim, esta é a conquista maior da Marcha das Margaridas: a força e a unidade das mulheres que, juntas, nós sabemos que podemos e é por isso que nós viemos aqui com toda esta força.” avaliou. Alessandra ainda pontuou que a diversidade de mulheres presentes no estádio e na Marcha das Margaridas desafiava a implementação de políticas públicas que respondesse, efetivamente, a demanda de cada uma delas.

Em seguida, a presidenta Dilma foi chamada a receber a pauta e fazer o seu discurso. Neste momento, todo o estádio gritava “Ole, ole, ole, olá, Dilma, Dilma”. Após saudar a presidenta, as margaridas entoavam o coro que dizia “Não vai ter golpe” repetidamente como aconteceu por vários momentos durante a caminhada pela manhã.

Após saudar os presentes, Dilma Roussef reafirmou a parceria que possui, desde a última marcha, com as margaridas e juntou-se à mobilização por justiça, autonomia, igualdade, liberdade, democracia e não ao retrocesso. A presidenta da República lembrou a música-lema das marchas que caracteriza às margaridas como mulheres decididas e afirmou: “eu cheguei à conclusão que não existe forma melhor de chamar cada uma das admiráveis margaridas porque vocês são, acima de tudo, mulheres decididas. Decididas a batalhar juntas por uma vida melhor no campo, na floresta, nas águas e nas marés. Decididas a avançar nas conquistas de direitos, decididas a repudiar a injustiça e aqueles que menosprezam a força das mulheres. Decididas a serem cada vez mais fortes, mais autônomas e mais felizes. Decididas a reafirmar o Brasil e o poder das margaridas de fazer a nossa história. As margaridas tem uma capacidade de organização e de luta que é notável e esta capacidade de luta contra a opressão inspiram todas as mulheres deste País, vocês são um exemplo e quero dizer que inspiram a mim presidenta da república e a todo o meu governo que precisa de diálogo constante com vocês para que façam as políticas que permitam fazer do Brasil um país em que mulheres tenham direitos e oportunidades. Foi por meio deste diálogo constante que desde a quarta marcha das margaridas em 2011 nós alcançamos várias conquistas.

Após pontuar diversos avanços, que Dilma caracterizou como conquistas por atenderem às demandas reivindicadas pelas mulheres do campo, a presidenta afirmou que a agenda da Marcha e de seu governo será sempre parecida, pois ambas tem como propósito garantir mais direitos e oportunidades às mulheres.

Ao entregar o caderno de resposta às reivindicações das margaridas, Dilma pontuou que cada ponto está comentados e que, onde não houver consenso, trabalhará para que se encontre alternativas para avançar.

Finalizando seu discurso, Dilma assegurou continuar trabalhando incansavelmente para honrar e realizar o sonho que milhares de mulheres depositam em seu governo  citou a música de Lenine: “Em noite – que eu vou traduzir em tarde como esta – eu cantando numa festa. Ergo o meu copo e celebro os bons momentos da vida. E nos maus tempos da lida, eu envergo, mas não quebro. Margaridas, nós envergamos, mas não quebramos. Nós seguimos em frente.”

Aplaudida em pé, Dilma encerrou seu discurso e a 5ª Marcha das Margaridas, que seguirão em marcha até que todas as mulheres do Brasil e do mundo sejam livres.

spot_img

Últimas notícias