sábado, maio 4, 2024

Na semana da consciência nNa semana da consciência negra, Contracs promove II Encontro Nacional de Promoção da Igualdade Racialegra, Contracs promove II Encontro Nacional de Promoção da Igualdade Racial

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Evento debateu as consequências do golpe para a população negra, mercado de trabalho e políticas afirmativas

No auditório do Centro de Formação e Lazer, em Mongaguá (SP), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs/CUT) realiza o II Encontro Nacional de Promoção de Igualdade Racial com cartazes que denunciam a realidade do povo negro: racismo, desigualdades e violência.

A abertura do evento contou com a secretária de mulheres da Contracs Paloma dos Santos, o secretário de saúde e segurança do trabalhador Domingos Braga Mota, a coordenadora da CUT-Baixada santista Anuska Schneider e o membro do coletivo racial da Contracs Octaciano Neto.

“O Brasil é um país racista e excludente e não podemos deixar isto acontecer. As pessoas estão morrendo, estamos sendo excluídos do mercado de trabalho e precisamos abrir os olhos e enfrentar esses problemas.” apontou Paloma.

Golpe e racismo
Para tratar da conjuntura, João Roberto de Jesus Filho abordou os retrocessos que são consequências diretas do golpe institucional, que impeachmou a presidenta Dilma Rousseff.

O vice-presidente do Conselho de Igualdade Racial de Cubatão comparou o golpe de 1964 com o de 2016. Segundo ele, os golpes tiveram os mesmos moldes, sendo que em 2016 foi mais moderno e ainda repetiu o golpe como aconteceu recentemente em Honduras e no Paraguai.

João Roberto reiterou as conquistas dos últimos anos, como o reconhecimento do racismo na constituição e a adoção de políticas públicas que beneficiaram majoritariamente a população negra como os programas sociais Brasil Quilombola, Pro-Uni, Luz para todos e a instituição da Lei de Cotas.

Entre os retrocessos, o palestrante destacou a revogação da comemoração do 20 de novembro em diversas cidades e estados. Além disso, João Roberto ressaltou que a PEC 55, que congela os investimentos em saúde e educação pública, assim como a reforma do ensino médio afetarão majoritariamente a população negra que também é mais pobre.

“Existe várias formas de combater os retrocessos como nos conselhos de direitos, que vão ser a nossa retomada e também através das campanhas dos sindicatos. Do jeito que está não podemos deixar mais porque estamos perdendo nosso direitos.” afirmou.

Mercado de trabalho e racismo
Regina Camargo, do Dieese, ressaltou que a história da classe trabalhadora brasileira precisa ser contada a partir da escravidão, já que os negros sempre fizeram parte da classe trabalhadora brasileira. “A visão eurocêntrica não corresponde com a história e resistência dos trabalhadores brasileiros porque ela inicia com o trabalho escravo e com o racismo como poder de dominação. Contar a história do capitalismo sem falar do racismo, é contar uma história pela metade.”

Segundo a economista, o racismo é a ideologia que justifica a supremacia de uma raça sobre as outras com a alegação de que algumas raças não tem autonomia para decidir suas próprias vidas e, por isso, é preciso impor sua vontade sobre outros povos. “O neoliberalismo impõe uma razão e uma cultura através de um pensamento único, desrespeitando a identidade, a diversidade e a cultura dos povos.”

Regina lembrou que a desigualdade no mercado de trabalho está atrelado ao preconceito racial e de gênero.

Em relação aos dados, a técnica do Dieese frisou que de modo histórico a população negra é a maioria entre os desempregados em todas as regiões do Brasil. E Regina também relatou que, em momentos de crise, o desemprego entre a população negra também aumenta mais do que entre a população branca.

A economista também pontuou que o trabalho doméstico é exercido, majoritariamente, por mulheres negras e que na conjuntura da crise se vê o aumento do emprego doméstico entre as mulheres que, nos últimos anos, estava decaindo.

As políticas de ações afirmativas e as cotas raciais
Julio Tumbi, da Educafro, explicou que as ações afirmativas são políticas focais que alocam recursos em benefícios de pessoas de grupos discriminados e vitimados pela exclusão sócio-econômico no passado ou presente. Segundo ele, as medidas tem como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, religiosas e de gênero, aumentando a participação das minorias no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social, etc.

O militante afirmou que as políticas afirmativas servem a um determinado propósito e devem ser usadas por um determinado tempo até que não seja necessário. “As políticas de cotas são juridicamente reconhecida como discriminações positivas baseadas no principio da igualdade material e são um instrumento efetivo de inclusão para a implementação de políticas públicas e um mecanismo real de acesso à educação, mercado de trabalho, dentre outros.”

Após os debates, os participantes assistiram à peça Carolinas, que aborda a vida e obra de Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras brasileiras.

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