quarta-feira, dezembro 11, 2024

“Não há direito de trabalhador garantido se não houver sindicato forte”, aponta presidente da Contracs

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Para Alci Matos, o financiamento da organização sindical e o acesso às bases serão principais debates para a próxima direção

No próximo dia 26, o capixaba Alci Matos Araújo, 49, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Comerciários do Espírito Santo, encerra o segundo mandato como presidente da Confederação dos Trabalhadores do Comércio e Serviços (Contracs).

O congresso que acontece em Brasília irá definir o nono presidente da organização que, como todo dirigente sindical do país a partir do golpista Michel Temer, terá como um dos principais desafios buscar alternativas para o financiamento da luta da classe trabalhadora. E, imediatamente, se colocará como um dos inimigos de Jair Bolsonaro e seus comparsas, sempre em busca de retirar direitos trabalhistas e asfixiar a luta dos sindicatos.

Em entrevista, Alci ressalta que o caminho para a sobrevivência do movimento trabalhista é a aproximação às bases e a retomada da utopia de construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Quando você chegou à Contracs, em 2005, Imaginava que o movimento sindical estaria diante de um cenário como o atual?
Alci Matos – Ao assumir a presidência, eu entendia que era preciso fazer formação, organizar a base e ajudar solidariamente os companheiros que aqui estavam. A Contracs passou a existir a partir da necessidade de fazer um movimento sindical diferente, então, imaginávamos um crescimento. E hoje encontramos um cenário em que tivemos muitas lutas, muitos encontros formativos, uma agenda muito intensa de atividades, uma direção ampliada, ações de patrimônio da confederação ampliadas, mas também observamos o roubo contínuo dos direitos dos trabalhadores por parte do Congresso e deste governo que persegue o movimento sindical.

Há nove anos, quando assumi a presidência, imaginei que teríamos um processo de ampliação de direitos e o que vemos hoje é a degradação das conquistas por parte de um Executivo que quer facilitar a vida dos patrões vendendo a alma dos trabalhadores. Diante disso, não resta outra alternativa ao trabalhador a não ser fortalecer suas entidades de classe.

No período em que você assumiu a presidência ainda havia o imposto sindical, uma receita que permitia grandes investimentos. Na atual conjuntura, sem essa receita, qual a saída para as organizações sindicais?
Alci – A Contracs teve a contribuição sindical de 2012, 19 anos após sua fundação, até 2017. Foram cinco anos de muitos investimentos mas, como todas as entidades sindicais, estamos passando por uma situação de ajustes de receitas e despesas. Quando se tem receita é possível fazer encontros, congressos, conferências, intercâmbio internacional e isso tudo teve de ser reduzido, levando a um momento de solidariedade sindical. Acreditamos que o fortalecimento dos sindicatos de base e o apoio deles às federações, confederações e centrais, além de parcerias internacionais, vai ser capaz de permitir a retomada da agenda de lutas com a mesma intensidade que tínhamos.

Diante deste novo cenário para as organizações sindicais, a Contracs resolveu promover caravanas de visitas às bases em vários estados. Qual o retorno que a direção obteve?
Alci –Uma confederação não pode existir se não tiver contato com a base, falando, ouvindo e debatendo temas. Sempre defendemos esse processo e fizermos várias agendas motivando isso.

Vamos ter de recuperar isso, não há direito de trabalhador garantido se não houver sindicato forte e confederação forte e organizada. E não víamos dirigentes de federação visitando bases. Ouvimos de nossos companheiros e companheiras como isso é importante e o pedido para que a Contracs fosse mais próxima e ajudasse a pensar o financiamento sindical, a organização no local de trabalho, como atuar diante de medidas como a Medida Provisória 873, que busca estrangular ao máximo a sobrevivência dos sindicatos.

Há um apelo muito grande dessa base, que confia na Contracs, para que atue juridicamente e junto aos parlamentares no sentido de garantir a democracia e a livre negociação, comandando mobilizações e sendo alternativa de pensamento político. Há um apelo para que não deixemos os sindicatos menores, mas bastante representativos, morrerem.

Quando você olha para trás, o que você vai gostar de contar para seus filhos e netos?
Alci –Como diz a marca do nosso congresso este ano, a luta só começou e a resistência que ajudamos a construir muito nos orgulha. Mas não podemos parar, porque um filho nosso hoje não poderá aposentar se essa proposta do Bolsonaro for aprovada, temos que fazer mais luta.

A gente vê as coisas crescerem e essa história que ajudamos a construir e nos dá certeza de que dias melhores virão. Desde a igreja, a associação de moradores, o trabalho organizativo aqui, o trabalho lá da loja, quando muitas vezes preparava a venda, mas perdia porque saia mobilizando a serviço do movimento sindical. E no dia seguinte tinha que reconstruir tudo de novo. Desde essa época acreditava que era possível fazer diferente, avançar por mais justiça e igualdade.

Somos agentes transformadores da sociedade, seja numa mobilização de rua, numa negociação coletiva ou num papo de boteco. A história é tudo que realizamos e ajudamos a construir.

Neste final de mandato ainda temos de elaborar um plano de lutas, não podemos soltar a mão de ninguém e precisamos seguir em frente. Certamente, eu e todos os companheiros que fizeram parte da direção aprendemos muito.

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