Acúmulo de função, excesso de trabalho, jornada extenuante e banco de horas fazem parte da realidade das camareiras em Campos do Jordão (SP).
Nesta terça-feira (28), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs/CUT) realizou a VI Oficina temática do setor hoteleiro para tratar das condições de trabalho das trabalhadoras camareiras em Campos do Jordão (SP). O encontro finalizou a jornada regional que a Confederação fez pelo país coletando informações sobre as condições de trabalho das camareiras com o objetivo de construir uma norma regulamentadora que estabeleça critérios e dê condições dignas de trabalho.
O evento contou com a mobilização das trabalhadores pelo Sindicato dos Empregados em Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Campos do Jordão (Sechotel) e o apoio da entidade internacional AFL-CIO – Solidarity Center.
O presidente da Contracs, Alci Matos Araujo, citou que a oficina passou anteriormente por Manaus, Teresina, Natal, Olímpia e Brasília. “Nós estamos indo a várias regiões para construir um instrumento a ponto de pressionar os poderes institucionais que tem neste país com uma preocupação para a trabalhadora mulher ou homem, mas principalmente a mulher camareira. O que nós temos para esta categoria? Nós queremos chegar a construir uma Norma Técnica que tenha mais respeito, mais qualidade no local de trabalho, que tenha horários de jornada, não permita a dupla função e que não seja penosa.”
“A nossa missão só pode ser de fato vitoriosa se nós atingirmos o objetivo da mudança do local de trabalho e do próprio trabalho para que dê a responsabilidade do capital para com o trabalhador, para com o local de trabalho que não seja insalubre, que não prejudique e não mate ninguém.” reiterou Alci.
O secretário de relações internacionais da Contracs, Eliezer Gomes, destacou a importância da iniciativa da confederação. “A Contracs tem sido pioneira nesse trabalho que tem sido feito com as camareiras em todo o país. Esta é a sexta oficina e nós queremos agradecer a presença de todos e todas. Nós sabemos das dificuldades de vocês, mas este é um momento de muita alegria e satisfação.”
Para o coordenador do setor hoteleiro e coordenador da regional Sudeste da Contracs, Antonio Carlos da Silva Filho, o planejamento da confederação é trazer a oficina para Campos do Jordão e interagir com a entidade sindical local e os trabalhadores. “Na verdade, essa oficina traz um conhecimento muito grande para a proposta que a nossa confederação tem, especialmente para o setor hoteleiro e em especial para as camareiras e camareiros.”
O presidente do Sindicato dos Empregados em Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Campos do Jordão (Sechotel), Antonio Arlindo da Silva, destacou a importância do projeto para a categoria hoteleira, em especial às arrumadeiras. “Especialmente às mulheres, que tem essa jornada dupla de cuidar da casa, dos filhos, do marido e ainda ficam dentro dos hotéis e das pousadas com muitas dificuldades que tem no trabalho. É uma categoria essencial, que trabalha nas partes íntimas dos hotéis e são surpreendidas com muitas coisas dentro desses apartamentos.”
Já a secretária-geral do Sechotel, Claudete Godói, que também é camareira e desempenha sua função há dezoito anos desabafou que o trabalho exercido pela categoria não é fácil, mas que as trabalhadoras vão levando e, com esperança, desejou: “Quem sabe daqui para frente todo mundo tome consciência da profissão e leve para todo mundo esse conhecimento porque você tem prática e pratica esse conhecimento no dia a dia e não tem coisa melhor do que fazer o que gosta.”
Relatos das trabalhadoras
Entre os relatos das condições de trabalho, diversas camareiras relataram falta de equipamentos nos hotéis e pousadas como carrinhos para o transporte das roupas de cama e banho, fazendo com que as trabalhadoras tivessem que carregá-las para realizarem seu trabalho.
Além disso, algumas trabalhadoras relataram o excesso de trabalho, o prolongamento da jornada de trabalho de forma rotineira e o pagamento da hora extraordinária através da instituição do banco de horas.
Infelizmente, apenas uma camareira afirmou desempenhar exclusivamente atividades relacionadas à sua função. As demais trabalhadoras sofriam com acúmulo e desvio de função, desempenhando não só as atividades de limpeza e arrumação dos quartos bem como exerciam atividades na lavanderia, limpavam as áreas comuns do hotel ou trabalhavam ainda na cozinha ou no atendimento de hóspedes.
Ao relatar as dores que sentiam ao final de uma jornada de trabalho, a maioria apresentou dores de cabeça, dores nas pernas e joelhos e nos membros superiores com altos índices de incidência de LER – Lesão do Esforço Repetitivo, mostrando a todas elas que a organização do trabalho no setor as impacta diretamente na saúde e na condição de vida.