sábado, novembro 9, 2024

Caso das joias: Wassef tem celular apreendido pela PF e Bolsonaro tenta culpar Cid

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O advogado de Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef, que admitiu que recomprou o relógio saudita Rolex, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF), na noite desta quarta-feira (16). Ele foi abordado em uma churrascaria dentro de um shopping, na Zona Sul de São Paulo, e teve o celular apreendido e o carro revistado.

A PF estava em busca de Wassef desde a última sexta-feira (11), quando a PF deflagrou a operação – batizada de Lucas 12:2, em referência ao versículo da Bíblia que diz “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido” – sobre a venda ilegal de presentes recebidos pela gestão de Bolsonaro por delegações de outros países.

No total, quatro agentes do Departamento de Inteligência da Polícia Federal estiveram em busca de Wassef desde o início da tarde de quarta-feira (16), na cidade de São Paulo. Eles percorreram restaurantes localizados na região sul da capital, na tentativa de localizar o advogado.

Wassef recomprou por US$ 50 mil (o que corresponde a aproximadamente a R$250 mil considerando a taxa de câmbio atual) um relógio vendido por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em uma loja na Pensilvânia. O relógio em ouro branco cravejado em diamantes e com mostrador em madrepérola branca, também cravejado em diamantes, foi um presente da Arábia Saudita à Presidência da República, em 30 de outubro de 2019.

Dois anos depois, em 13 de junho de 2022, Mauro Cid levou o relógio até os Estados Unidos para vendê-lo. A investigação da PF mostrou que o ex-ajudante de ordens esteve em uma loja de relógios por meio de uma investigação no aplicativo Waze e pela conexão com o wi-fi do estabelecimento.

“Os elementos de prova colhidos apontam que Mauro Cid, após se desligar da comitiva presidencial no dia 13 de junho de 2022, viajou de Miami até a cidade de Willow Grove, no estado Pensilvânia/EUA. Na cidade se dirigiu até a sede da loja Precision Watches e efetivou a venda do relógio Rolex Day-Date, que integrava o denominado ‘kit Ouro Branco'”, presenteado pela Arábia Saudita.

“Após efetivar a venda do referido relógio, (…) o montante de US$ 68.000,00 foi depositado, no mesmo dia, na conta bancária de Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cesar Barbosa Cid”, diz a investigação.

Segundo a PF, depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou a existência das joias sauditas e determinou a entrega dos objetos à União, em março deste ano, foi montado um esquema para recuperar as joias vendidas nos Estados Unidos por Mauro Cid, do qual Wassef fez parte.

Guerra de defesas

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que alertou o ex-ajudante de ordens Mauro Cid para que as joias recebidas da Arábia Saudita e as armas presenteadas pelos Emirados Árabes Unidos fossem devolvidas antes da determinação do TCU.

O advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, disse que sugeriu “antecipar” e entregar ao tribunal. “Qualquer outra interpretação está eivada de má vontade ou de uma frustrada tentativa de envolver meu nome em ações que desconhecia”, afirmou Wajngarten à CNN Brasil.

Por outro lado, o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, afirmou que o ex-ajudante é “militar cumpridor de ordens”, em entrevista à GloboNews. “Alguém mandou, alguém determinou, ele é só o assessor. Assessor cumpre ordens. Vamos examinar os fatos, saber quem é quem, até onde vai a responsabilidade de um e de outro. Ele é um grande injustiçado, está indevidamente recolhido no Exército. É absurdo que esteja trancafiado dentro de uma cela dentro do Exército”, disse Bitencourt.

A defesa de Mauro Cid também afirmou que a possibilidade de uma delação não está descartada. “Sou crítico [à delação], é uma aberração, na verdade. Mas se for necessário, a gente não abre mão. Guerra é guerra, né? Vamos fazer o que for necessário”, disse à CNN Brasil.

Mauro Cid foi alvo da Operação Lucas 12:2 autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Para o magistrado, há indícios de que o esquema de venda ilegal de joias foi realizado por “determinação” de Bolsonaro.

Segundo a corporação, foi montada uma ofensiva para driblar o registro dos presentes do setor do Palácio do Planalto responsável por catalogar os objetos. Fariam parte do esquema o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid; seu pai, o general da reserva Mauro César Lourena; o segundo-tenente do Exército Osmar Crivelatti, braço direito de Mauro Cid; e o ex-advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef.

Em nota, a PF afirmou que “há fortes indícios de que os investigados usaram a estrutura do Estado brasileiro para desviar de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao Presidente da República (…) com o intuito de gerar o enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro”.

Os valores obtidos com as vendas teriam sido “convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.

A Polícia Federal também está compartilhando todos os detalhes da investigação com o FBI, a agência federal de polícia dos Estados Unidos. Isso pode fazer com que Jair Bolsonaro, Mauro Cid e Mauro César Lourena sejam submetidos a investigações nos Estados Unidos por possíveis infrações financeiras, como lavagem de dinheiro e utilização de contas bancárias para esconder valores ilícitos. Além disso, o FBI deverá conduzir investigações sobre as empresas, lojas e indivíduos que adquiriram as joias, a fim de determinar se tinham ciência da origem ilegal dessas peças.

Na última quinta-feira (15), a Justiça Federal em Guarulhos determinou envio de uma das investigações sobre as joias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Movimentação milionária

A Polícia Federal encontrou uma movimentação milionária nas contas bancárias do Mauro Cid. Entre 2020 e 2022, foram movimentados cerca de R$ 8,4 milhões, sem contar transferências entre contas de mesma titularidade, segundo apuração do Estadão.

Os valores, no entanto, são incompatíveis com a renda do tenente-coronel.Ele recebe R$ 318 mil reais por ano, conforme informou à Receita Federal. Isso significa que as cifras depositadas em sua conta são cinco vezes maiores do que a sua remuneração.

Os documentos com as informações, que foram entregues à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, também mostram que Cid ainda movimentou outros R$ 2,3 milhões como procurador das contas do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Mauro Cid, enquanto procurador de Bolsonaro, movimentou um total de R$ 1,1 milhão em suas contas ao longo de três anos. Além disso, existem registros de dívidas no montante de R$ 1,2 milhão. Segundo o jornal Estadão, Cid usou aproximadamente R$ 200 mil somente em seu cartão de crédito internacional. A análise detalhada das informações sigilosas também demonstrou que, no período entre maio e agosto de 2022, que precedeu as eleições presidenciais, Cid recebeu um total de R$ 1,2 milhão em suas contas.

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