sexta-feira, maio 17, 2024

Jovens dos EUA ouvem a CUT sobre como se organizar para vencer o autoritarismo

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Em busca de informações de como funciona o sindicalismo brasileiro e como os trabalhadores e trabalhadoras conseguiram se organizar para vencer o autoritarismo e a extrema direita, sob o comando de Jair Bolsonaro (PL), nas eleições presidências de 2022, um grupo formado por cerca de 40 jovens dos Estados Unidos, provenientes de diversos estados e entidades, se encontrou com dirigentes da CUT Nacional e do Partido dos Trabalhadores (PT),  no final da tarde da última sexta-feira (29/09), na sede da Central, em São Paulo.

Os ativistas norte-americanos são líderes de movimentos urbanos, de moradias, sindicais, e de justiça climática e racial dos EUA que vieram para aprender sobre movimentos organizados no Brasil e fazer trocas e expandir os contatos.

O encontro foi organizado pelo Comitê de Defesa da Democracia no Brasil de Nova Iorque (Defend Democracy in Brazil de Nova York/DDB-NY), que também participou da campanha #StandwithLula (Lula Livre) e, que organiza movimentos dos EUA junto a Action Lab, uma organização de Nova York, estratégica para movimentos sociais que estimula a libertação política e pessoal.

Uma das organizadoras do encontro, a brasileira Natalia de Campos, disse que como o comitê em que atua tem feito muito trabalho de solidariedade junto aos movimentos sociais, eles atraíram a atenção de outros grupos norte-americanos. Natália nasceu em São Paulo, é escritora, educadora e ativista. Mora em Nova York desde 1998.  Em 2016, cofundou o Comitê Defend Democracy in Brazil ,em Nova York (DDB-NY), com um grupo de ativistas brasileiros que luta pela democracia e justiça social e atua em solidariedade com os movimentos sociais do Brasil.

“Resolvemos montar essa viagem com um itinerário, partindo do princípio que os movimentos imigrantes, de sindicatos e de organização dos Estados Unidos queriam aprender junto aos movimentos sociais e partidos políticos brasileiros, para poderem entender como a gente conseguiu vencer o fascismo nas urnas, na eleição passada. O principal interesse foi entender como as articulações dos trabalhadores conseguiram criar uma frente ampla política, que elegeu Lula”, contou Natália.

Segundo Natália, os movimentos sociais dos EUA estão vivenciando um dilema parecido com o brasileiro como o caso dos atos golpistas de 8 de janeiro, dia em que houve a invasão e uma grande quebradeira nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

“Nos EUA houve o 6 de janeiro [invasão do Capitólio] e também as tentativas de retirada de direitos como as cotas nas universidades, as mudanças na legislação de direitos raciais, das mulheres e dos trabalhadores. É uma delegação de aprendizagem. Eles estão aprendendo no dia a dia com as diversas lideranças brasileiras”, disse.

O encontro foi coordenado por Gianpaolo Baiocchi, ativista e acadêmico brasileiro que mora em Nova York, onde dirige o Laboratório de Democracia Urbana da Universidade de Nova York (NYU). Ele atuou em campanhas pelos direitos dos imigrantes e anti-militarismo nos Estados Unidos, e é membro do Comitê Defend Democracy in Brazil (DDB-NY).

O intercâmbio

Foram duas mesas compostas para a conversa. A primeira teve a participação de Adriano Diogo, ex-vereador e deputado estadual pelo PT de SP, que fez parte da Comissão da Verdade que apurou os crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), e do presidente do PT municipal de São Paulo, Laércio Ribeiro, que responderam a perguntas sobre a derrota da extrema direita e a construção do PT.

Adriano descreveu o ambiente político da época, ressaltou o papel do presidente Lula e o fato de os membros da Igreja Católica progressista, os sindicatos e os mais importantes intelectuais brasileiros se uniram em torno de uma proposta democrática para o país.

A segunda mesa foi composta pela secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Junéia Batista, o secretário-adjunto da Secretaria de Relações Internacionais, Quintino Severo, o secretário-Geral, Aparecido Donizeti da Silva, e por Silvia Maria da Silva Santos, presidenta do Sindicato das Domésticas de São Paulo e Diana Soliz Soria de Garcia, diretora do Departamento Doméstica Migrante e Indígena.

ROBERTO PARIZOTTIRoberto Parizotti

A história da CUT, como é feita a articulação e parceria com os movimentos sociais foi descrita por Quintino, que ressaltou a retirada de direitos dos trabalhadores durante o governo Bolsonaro, e como é importante a “Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores”, assinada pelos governos Lula e Biden, para empregos decentes.

 

As representantes das domésticas foram bastante questionadas sobre a legislação brasileira, já que nos EUA não existe uma lei específica para essas trabalhadoras. Elas contaram que apesar da lei, muitos patrões e patroas se recusam a pagar seus direitos e até as submetem ao trabalho análogo à escravidão.

Outro ponto abordado foi como a pandemia afetou a categoria. A primeira vítima fatal da covid-19 foi uma doméstica, contaminada pelos patrões que voltaram de uma viagem a Itália.

Sobre a filiação ao sindicato das domésticas, Silvia Maria explicou que como elas trabalham isoladamente isso torna mais difícil o contato, mas que ao serem procuradas na hora de uma rescisão de trabalho, a maioria das contas mostra que muitos patrões não pagam o que é devido.

A migração e os direitos desses trabalhadores também foram bastantes questionados. Diana Soliz, que nasceu na Bolívia e mora no Brasil há mais de 20 anos, defendeu que os imigrantes tenham os mesmos direitos dos brasileiros e, citou como exemplo ela própria que somente com a ajuda do sindicato conseguiu receber seus direitos.

Os direitos das domésticas despertaram o interesse de Gonzalo Mercado, representante da National Day Laborer Organizing Network (NDLON), uma rede nos EUA de organizações de trabalhadores imigrantes de baixa renda. A NDLON trabalha para melhorar a vida dos trabalhadores diaristas, migrantes, para construir lideranças e a autonomia entre aqueles que enfrentam injustiças para que possam desafiar a desigualdade e expandir os direitos laborais, civis e políticos para todos.

Para Gonzalo Mercado, as entidades sindicais dos Estados Unidos têm muito a aprender com o Brasil, porque a mídia norte-americana não fala, ou fala muito pouco sobre a América do Sul, especialmente sobre o movimento dos trabalhadores.

“Eu penso que os trabalhadores domésticos são os mais vulneráveis e, por isso os que não têm documentação, os imigrantes sem documentos, deveriam ter prioridade em todo o mundo, para que conquistarem a legalidade”, afirmou.

A qualidade da troca de ideias entre os jovens de movimentos sociais dos EUA com os sindicalistas brasileiros impressionou a secretária da Mulher Trabalhadora, Junéia Batista.

“Foi muito bom ver a ‘carinha’ de todas e todos querendo saber como a gente se organiza aqui no Brasil. Falar sobre a nossa relação com os movimentos sociais e como essa interação foi importante para a gente sobreviver de 2013 até 2016, quando se iniciou o rompimento do processo de democracia. Mas graças a nossa união de classe com os movimentos sociais, a gente conseguiu trazer Lula de volta [a presidência], disse.

“Conseguimos passar para eles que não é apenas criar um sindicato, uma organização, é preciso muita conversa para formar dirigentes e militantes”, concluiu Junéia.

Roteiro no Brasil

No Rio de Janeiro o grupo norte-americano encontrou lideranças políticas e mulheres das comunidades, de igrejas evangélicas, das organizações de sociedade civil e LGBTQIA+.

No interior de São Paulo eles foram aos territórios e espaços do Movimento Sem Terra (MST) e na capital se encontram com integrantes do Uneafro e dos movimentos de moradia que ocupam prédios na cidade.

Os organizadores desses encontros esperam que esses contatos com movimentos brasileiros continuem após o término da viagem, no domingo (1º).

Vieram ao Brasil representantes das seguintes entidades e localidades:

Nova York: The Action Lab (TAL); Comitê Defend Democracy in Brazil; The Working Families Party (WFP); National Day Laborer Organizing Network (NDLON); Alliance for Quality Education e Brooklyn Movement Center; Citizen Action of New York (CANY); For The Many ; Housing Justice for All (HJ4A); Make the Road New York (MRNY) e  New York Communities for Change (NYCC).

Flórida: Central Florida Jobs with Justice; Florida For All e Online to Offline Strategy Group (O2O)

Texas: Voices of Community Activists and Leaders (VOCAL-TX)

Califórnia: California Calls e PICO California

Porto Rico: La Tejedora Initiative; Pólvora Colectiva Cuir; La Aldea e The Güakiá Colectivo Agroecológico.

Redação da CUT

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