Por Julimar Roberto*
Há um ano, o Brasil viveu um dos momentos mais dramáticos de sua história recente. No dia 8 de janeiro de 2023, uma multidão de apoiadores do ex-presidente, inconformados com a derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, numa tentativa de golpe de Estado. O ataque, que deixou dezenas de feridos e causou danos irreparáveis ao patrimônio histórico e cultural do país, foi repelido pela reação firme das instituições democráticas, que contaram com o apoio da sociedade civil e da comunidade internacional.
Um ano depois, o que mudou? O que aprendemos com essa experiência traumática? E o que ainda precisamos fazer para garantir que nunca mais esqueçamos e nunca mais repitamos esse episódio vergonhoso?
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o Brasil saiu fortalecido dessa crise. Apesar da violência e da ameaça à ordem constitucional, o país conseguiu preservar a sua democracia e a sua soberania. O presidente Lula, eleito legitimamente pelo voto popular, assumiu o cargo e iniciou um governo de reconstrução nacional, baseado no diálogo, na inclusão e no respeito aos direitos humanos. O Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, alvos dos ataques, mantiveram o seu funcionamento normal e o seu papel de fiscalização e equilíbrio dos Poderes. As Forças Armadas, que foram cooptadas por uma parcela minoritária de militares golpistas, reafirmaram o seu compromisso com a Constituição e a democracia. E a sociedade brasileira, que se mobilizou em defesa da legalidade e da liberdade, mostrou a sua maturidade e a sua diversidade.
Em segundo lugar, é preciso lembrar que nosso país ainda enfrenta muitos desafios e riscos. O atentado de 8 de janeiro não foi um fato isolado, mas o resultado de um processo de radicalização e de desinformação que se arrastou por anos, alimentado por discursos de ódio, de intolerância e de negação da realidade. Os responsáveis por esse ataque, tanto os executores quanto os financiadores e os incentivadores, ainda não foram devidamente punidos e continuam a representar uma ameaça à estabilidade e à paz social. A crise econômica, social e ambiental, que se aprofundou nos últimos anos, demanda políticas públicas de recuperação, de distribuição de renda e de proteção dos recursos naturais. E a polarização política, que se acirrou nas últimas eleições, requer um esforço de diálogo, de tolerância e de respeito às diferenças.
Em terceiro lugar, é preciso afirmar que nossa pátria tem esperança e tem futuro. O ato realizado no Senado no início da semana, que relembrou a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, foi uma demonstração de que o país não se rendeu ao medo e ao desespero, mas que segue em frente com coragem e com confiança. O evento, que contou com a presença do presidente Lula, do presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, além de ministros, parlamentares, governadores, prefeitos, representantes de partidos políticos, de movimentos sociais e sindicais, de entidades da sociedade civil, de artistas, de intelectuais, de jornalistas e de cidadãos comuns, foi uma celebração da democracia e da diversidade. Foi também uma oportunidade de reflexão, de homenagem às vítimas e de compromisso com a defesa dos valores republicanos.
O Brasil é um país plural, rico, criativo e generoso. Somos uma nação que tem uma rica história de lutas, conquistas, resistências e superações. Temos uma vocação incrível para a democracia, a paz, a justiça e a solidariedade. Nosso povo é nobre e não se deixa abater, intimidar ou enganar. Sabemos que a democracia é o nosso bem mais precioso e que não pode ser violada, nem por dentro, nem por fora. E sabemos também que, mesmo inabalada, ela precisa ser cuidada, cultivada e aprimorada a cada dia. Por isso, sobre o 8 de janeiro de 2023, não podemos esquecer para nunca mais deixar acontecer.
*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT