Quebra do sigilo de 100 anos do cartão corporativo, imposto pelo ex-mandatário mostra gastos que ultrapassam os R$ 13 milhões em hotéis, em férias de Bolsonaro, além de despesas em motociatas com apoiadores
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 27,6 milhões em despesas no cartão corporativo. Os gastos, muitas deles, chamam a atenção por suas particularidades. O salário do ex-presidente era de R$ 30,9 mil, o que lhe dava plenas condições financeiras para comprar, por exemplo, doces, sorvetes e afins. No entanto, era do cartão corporativo que saia o dinheiro público para Bolsonaro comer suas guloseimas. Ele gastou mais de R$ 8,6 mil em sorveterias do Distrito Federal.
As informações foram conseguidas pela Fiquem Sabendo – agência de dados públicos especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI) e publicadas pelo jornal Estadão. Elas vêm à público um dia após o sigilo de 100 anos impostos por Bolsonaro, às visitas recebidas pela ex-primeira dama Michelle, terem sido reveladas.
Os valores não condizem com a retórica de Bolsonaro – de ser um homem de costumes simples. Isso porque os gastos são bem maiores e não se referem apenas à gula do ex-presidente. De acordo com as informações , cerca de R$ 13,6 milhões foram gastos em hospedagens em hotéis de luxo.
Um deles é o Ferraretto Hotel, no Guarujá, litoral de São Paulo, onde o presidente esteve em férias em períodos como o fim do ano de 2021 e no carnaval de 2022, fazendo passeios de moto e jet-ski, sem cumprir nenhuma agenda oficial e sendo bancado por dinheiro público.
O total recebido pelo estabelecimento soma R$ 1,46 milhão, valor suficiente para bancar oito anos em hospedagem, considerando um valor médio de R$ 500 por diária.
A revelação dos gastos de Bolsonaro com dinheiro público foi motivo de revoltada nas redes sociais. O deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) foi um dos que criticou o ex-presidente.
Outros gastos supérfluos com dinheiro público
Ainda segundo a lista de gastos com o cartão, há valores que se referem a compras em padarias. A padaria Santa Marta, no Rio de Janeiro, recebeu em média R$ 18 mil reais por nota emitida, ou seja, por compras feitas no estabelecimento. A maior delas foi de um total de R$ 55 mil reais. O valor equivale hoje a cerca de 42 salários mínimos gastos em uma única compra.
Chama a atenção ainda a data de um dos gastos, no valor de R$ 33 mill, feito em dia 22 de maio de 2021, véspera de uma motociata realizada pelo ex-presidente e seus apoiadores, já em tom de campanha eleitoral, no Rio de Janeiro.
Outro gasto com hospedagens e alimentação e que também coincide com motociatas bolsonaristas foi feito no Rio Grande do Sul, em julho de 2021, quando foram gastos R$ 166 mil dos cofres públicos.
Sigilo de 100 anos
O Governo Federal deu início ao cumprimento de um dos compromissos firmados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda durante a campanha, de respeitar a Lei de Acesso à Informação e quebrar o sigilo de 100 anos imposto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a vários assuntos de interesse público.
Ao todo foram 65 casos como o processo das rachadinhas do senador Flávio Bolsonaro (RJ), a prisão do ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, aliado do clã Bolsonaro, o cartão de vacinação, os gastos do cartão corporativo, além das visitas de Michele.
Uma das primeiras ações de Lula após assumir o mandato foi determinar à Controladoria Geral da União (CGU) para que analisasse todos os sigilos em um prazo de 30 dias.